O “Angelus”

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Angelus, Jean-François Millet – 1857

Há um século entre o Angelus, de Millet e a Reminiscência arqueológica do Angelus de Millet, que Salvador Dali pintou. Um século é imenso e tão pouco. Quase não dá tempo para mudarem as nuvens no céu, nem para calcificarem as figuras na terra.

Também vivemos de reminiscências. Afinal, não é assim tão importante querer mudar o mundo.

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Reminiscência arqueológica do Angelus de Millet, Salvador Dali, 1933

O que é um telegrama?

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Há muitos, muitos anos, num planeta muito, muito distante chamado Terra, e havendo ainda uma instituição a que se chamava “correios, telégrafos e telefones”, um jornalista inglês mandou um telegrama ao agente de um famoso actor, Cary Grant, perguntando-lhe: “How old Cary Grant?
Acidentalmente, e como só nesses tempos remotos acontecia, o telegrama acabou por cair nas mãos do actor. Não só não se ofendeu, como, com panache e de coração ao alto, respondeu: “Old Cary Grant fine. How you?”.
O mundo já teve graça. Depois, dizem, ficou perigoso. A mim parece-me que talvez esteja só chocho.

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São Paulo da Assumpção de Luanda

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Hoje, neste falso Outono de 2018, hoje que Lisboa e Portugal são o acrisolado destino da Europa e do Mundo, eis que a África, a minha ideia de África e as minhas memórias de África vêm e voltam, como uma espécie de náusea feliz e dionisíaca, matizar o apolíneo cortejo de pompa e circunstância com que os “media” nos brindam. A nostalgia, na sua preguiçosa forma tropical, mordeu-me e eu deixei, deixo, deixarei sempre.

Lembro-me de que cheguei a Luanda a 29 de Junho de 1959. Dia de São Pedro. Do belo convés do Vera Cruz, e ainda antes de ver o meu pai, ausente há dois anos, a primeira coisa que me fascinou foram as barrocas vermelhas, erguendo-se contra o mar, desafiando a baía, tão selvagens como Monument Valley, que só muito mais tarde os filmes de John Ford me fariam descobrir. Nunca mais conseguirei ser de uma cidade como fui da cidade de São Paulo da Assumpção de Loanda.

Lembro-me de que a vida era doce e quente, tão genuína como o espectáculo da projecção de filmes no cinema dos padres capuchinhos, em que os espectadores tentavam alterar o curso dos westerns atirando sapatos aos “bandidos” para salvar o “rapaz” ou gritavam e assobiavam em desvairada apoteose sempre que um beijo em grande plano enchia o écran.

Lembro-me que as Bessanganas, as Senhoras do Sambizanga varriam o chão de terra em frente à sua cubata deixando-a irreprensível de limpa, numa higiene natural que só a honesta mão humana oferece. A pobreza, quando usa a vassoura, confere, ó se confere, um brilho ético ao mundo.

Lembro-me da música tão física e lembro-me – eu que construí laboriosamente a lenda de que os N’Gola Ritmos ensaiavam na minha rua, mas eram só os Ngoleiros do Ritmo – de uma noite ter bebido copos até o sol nascer num grupo em que estava o Elias Diá Kimuezo.

E lembro-me, no Liceu Nacional Salvador Correia, de beber livremente Coca-Cola pelas garrafas que depois imortalizariam Andy Warhol e de ter lido dezenas de livros proibidos porque o pai de um dos meus melhores amigos era inspector da Pide e dava a ler ao filho, e ele a mim, os livros que eram proibidos aos outros.

Prezo tanto mais estas memórias quanto elas não têm já qualquer substância. São Paulo da Assumpção de Loanda é hoje outra cidade e aquela África outra África. Como nas ficções labirínticas de Borges, quem sabe se essa África não foi apenas um sonho (pesadelo para outros) e nesse sonho eu fui só coisa sonhada.

Ai, Mizoguchi

Convido-vos a virem comigo ao WC feminino da Cinemateca Portuguesa

MIZOGUCHI
ai, mizoguchi

Mas afinal, onde está a arte? Projectava-se o “Je Vous Salue Marie” na Cinemateca. No gigantesco portão da rua uma multidão de integristas tentava rebentar as barras, como se lá dentro estivesse a arte cativa e fosse preciso libertá-la das garras do João Bénard y sus muchachos, banda mariachi que era o ódio de estimação do então famoso crítico Augusto M. Seabra, a quem mando um abraço. Jovens de piedosos 20 anos trepavam o íngreme gradeamento, tombando na calçada do passeio, quais figurantes eisensteinianos. No breu da sala esmurravam-se integristas imberbes, velhos comunistas e perplexos polícias, concorrendo em arte e beleza com as imagens blasfemas e basquetebolistas de Jean-Luc Godard. A sala tinha um hálito de Espírito Santo, mistura do cheiro imperial a coca-cola teenager com o bafo lusíada de militante bagacinho foice e martelo. Não era o pandemónio, era a arte.

Marie
um hálito de Espírito Santo

Mas afinal onde está a arte? Andava a Cinemateca enroladinha com a Gulbenkian a fazer um Ciclo do pasmoso Cinema Musical e, na salinha Félix Ribeiro, pensou-se exibir o salmo à fé punk que era “The Great Rock ‘n’ Roll Swindle”. Ora bem. Houve, como nunca houvera, uma multidão espontânea em Lisboa. Era uma multidão de cabelos arco-íris eriçados, roupas em variantes negras de negro, botas e metais. Era a multidão anti-portuguesa que cuspia. Só o mau vinho carrascão em garrafas de grosso vidro verde a ligavam ainda à pátria de Afonso Henriques. As paredes da Cinemateca abaularam-se, um leque de líquidas, semi-sólidas ou sonoras manifestações metabólicas escorreram por sofás e alcatifas. Obra e espectadores fundiam-se, centáuricos, num todo caótico e sublime, arte total que humilharia Wagner e os execráveis wagnerianos.

thegreatrocknrollswindle
um salmo à fé punk

 Voltei ontem à Cinemateca. Ah, chorava eu, a melancolia que desliza pelas paredes tão institucionais e académicas de hoje! E eis que, não podendo dizer quem foi, e não fui eu, alguém vem do WC do urgente sexo feminino e me segreda que, numa das escatológicas portas, delicada mão em êxtase lavrou o haiku que resgata qualquer cinzentismo, fundindo, em sublime anseio artístico, a sala, os filmes exibidos e os mais fundos desejos dos espectadores. Na porta do WC, a mulher em chamas escreveu, e eu espero que se preserve e arquive como obra de arte: “Mizoguchi lambe-me a pussy.”

Publicado no Expresso

As Noites do La Chunga

Já aqui dancei. Com cândidas e vitais playmates roubadas a Hugh Heffner, com a maravilhosa gente da ex-indústria televisiva, que se finge fútil para não lhe dizer o que vai na alma. Já aqui bebi copos. Não sei se me confessei ou não e talvez me tenham feito confissões, que a mim mesmo me proíbo de lembrar. Mas sei, sobretudo, que fiz aqui um amigo.

_La-Chunga

No hay tablao” no La Chunga, mesmo em frente ao Hotel Martinez, em Cannes, a cidade do festival de cinema, a cidade dos mercados de televisão.

Piano-bar depois da meia-noite (antes dessa redonda hora é restaurante para factícios príncipes e putativas cinderelas), com música variada e frequência unilateralmente suspeita, “no hay tablao” nem é preciso, porque nas cadeiras ou nas mesas – em todo o lado, menos no chão – jovens mulheres e homens de matura idade dançam enérgica e livremente, sempre bem acima do nível do mar.

Não me lembro de quem canta e do que se canta! Minto, minto: lembro-me da Katty Blue a cantar na materna língua francesa, e também em fluente inglês (naquelas nocturnas horas em que todo o inglês que se ouve parece saltar de Lady Macbeth para o Paraíso Perdido) e ainda (volare, volare!) num macarrónico mas doce italiano. Morena, quase um metro e setenta, olhos negros, nascida, julgo, em St.Tropez.

Não, não me lembro: invento! Ao ponto de me atrever a jurar que Katty Blue tinha a elegância ainda não anoréxica dos 60 quilos!

No La Chunga, até às 5 da manhã, dança-se. Em homenagem, creio, a Micaela Flores Amaya, cigana andaluza, bailarina, que os pais fizeram nascer em Marselha e, de Picasso a Ava Gardner, conquistou os grandes do mundo, conhecida e amada como La Chunga. Essa, ela, cujos “pies descalzos” – tendo abandonado aos 21 anos o flamenco por ter casado e sido mãe – mais tarde “volvieron a pisar anoche el tablao del Café de Chinitas”.

Gostaria de pensar que o La Chunga foi dela, ou foi criado por amor a ela. E gostaria ainda de acreditar que a homónima peça de Vargas Llosa, protagonizada pela proprietária de um bar no Perú, se inspirou na andaluza bailarina e nesta sexy espelunca do 24 da rue Latour-Maubourg que, perpendicular, desagua na Croisette.

A verdadeira bailarina e a fictícia peça de Llosa são porventura coincidências. Ou são apenas reflexo de um (meu) desiderato descabelado e optimista. Pouco importa. Das minhas noites no La Chunga guardo a inocência dum prazer em primeiro grau. Não precisam – aquelas cendradas noites – de caução. Basta-lhes essa intensa e infantil alegria de, cantando mal e dançando pior, terem firmado electivas afinidades.

No La Chunga, mesmo quando é de pinguins que se fala, nas cadeiras ou em cima das mesas, dança-se sempre, limpidamente, acima do nível do mar.

Ah, mas lá que se vão rir, isso vão

O editor da Guerra e Paz editores, com quem mantenho relação de grande promiscuidade e gosto duvidoso – sobre a qual se pode dizer, de forma indesmentível, que somos unha com carne – pediu-me que escrevesse algumas palavras sobre um livro que vai chegar às livrarias a 16 de Outubro, mas que ele, com aquela ganância típica de empresário, quer já pôr a render. Enfim, sou contra, disse-lhe dois ou três palavrões, mas acabei a render-me também eu à marcha inexorável do capitalismo 

3D Book Insultos

 

Pede-me o editor da Guerra e Paz que, na minha qualidade de autor, vos fale deste O Pequeno Livro dos Grandes Insultos.

Escolho pensar no que gostava que acontecesse quando tivessem este livro na mão. A primeira coisa que espero é que se riam. E que se riam muito. O livro reúne os piores insultos, os piores palavrões da língua portuguesa, como nunca foram postos num livro. E a minha primeira preocupação foi que este livro nada tivesse de ofensivo. Ora, como sabemos, mais do que nada, mais do que tudo, o que nos salva é o humor. Este é um livro para nos rirmos com o que, se fosse no trânsito ou se fosse o mono do vizinho de cima a dizer-nos, nós iríamos logo para a guerra. Portanto, primeira promessa, este livro vai fazer-vos rir.

A minha segunda preocupação foi ser útil e procurar fazer um trabalho de recolha cuidado, enquadrado com fundamento e de forma despretensiosa. Não posso ser juiz em causa própria, mas procurei avaliações de especialistas da língua e o exame correu bem, quero agora a vossa opinião sobre um livro que reúne pela primeira vez os insultos e palavrões da língua portuguesa em situação. Portanto, segunda promessa, este livro vai ser-vos útil.

A minha terceira preocupação foi fazer um livro que o leitor não tivesse de ler em segredo e em zonas reservadas. Este é um livro que o leitor pode mostrar e vai querer partilhar com os seus amigos. É um livro para homens e mulheres. Tem palavrões – os piores – mas foi pensado para ser elegante, tanto no seu aspecto exterior, como no interior. Quer no texto, quer na mancha gráfica. Nesse sentido é um livro meu, mas é também um livro do Ilídio Vasco, o designer gráfico que comigo trabalha vai para 12 anos. Portanto, terceira promessa, este livro é bonito.

Com este livro vai saber porque insulta, quem insulta, como insulta e donde vem o insulto que larga quando larga um rutilante palavrão. Escuso de dizer que o livro lhe oferece algumas centenas de sinónimos para poder variar a sua «gama de produtos» disponíveis. Vai descobrir que «Dalila do meu Sansão» ou «alavanca de Arquimedes» têm sentidos inesperados e bem sugestivos. Portanto, quarta promessa, este livro vai mesmo alargar o seu horizonte vernacular.

Deixem-me dizer o que vão encontrar. Num primeiro capítulo, organizados por certas áreas do corpo humano que são as mais procuradas para insultar alguém, estão os maiores insultos que todos nós já usámos naquele momento de som e fúria em que vemos tudo em sangue. Num segundo capítulo, estão as expressões com palavrões que já entraram na língua e são hoje expressões idiomáticas, como por exemplo a expressão “bom, isso é em casa do c… mais velho”. Num terceiro capítulo estão lengalengas, cantilenas e outras amenidades populares, como a que esperamos ouvir quando alguém grita «Ó Abreu, abre o…» ou que, começando por «bonito, bonito, é …» não me atrevo a terminar aqui. Num quarto capítulo, reúnem-se as expressões eufemísticas, aquelas em que dizemos aquilo sem dizer aquilo, forma hábil de contornar o palavrão, como quando dizemos que o que era mesmo bom era agora «molhar o biscoito» ou «passar a linguiça na farinheira». Por fim, no último capítulo, descobrimos, através de expressões ultrajantes, que o palavrão é eterno e é de todos os lugares. Vai ver como foi e é usado, dos poetas romanos à China ou Finlândia dos nossos dias.

O livro chega às livrarias no dia 16 de Outubro, mas nesta pré-venda, juram-me o editor e o Américo Araújo, director comercial, que há condições únicas: com os Insultos a ediotra oferece um livro maravilhoso, O Bordel das Musas, com os poemas eróticos de Claude Le Petit, que os franceses queimaram na fogueira, e com ilustrações muito bonitas de João Cutileiro: o pior é que também levam com um autógrafo deste autor de tão má caligrafia. Não percam.

E no amor? Ninguém fala no amor?

Há 11 anos, estava eu de casa e pucarinho com Nelson Rodrigues, se assim se pode dizer

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Então e no amor? Ninguém fala no amor? Quem cantou a ideia de “amor único” foi Nelson Rodrigues, o extraordinário cronista brasileiro que, detestando em igual e rude medida Sartre e D. Helder da Câmara, escrevia um português excelso. Estivesse ele a tomar um cafézinho em Copacabana, ou a subir ao morro no bondinho, ou a entrar no Maracaná para ver seu Flu, sempre o assaltava a mesma nostalgia, a nostalgia do amor único e eterno. O amor do menino pela menina, vizinha do lado, que começa aos 12 anos e dura a vida toda, o amor que nos pega sem licença ao primeiro olhar, o amor dos amantes que se matam felizes, consolados pela vertigem da paixão que lhes basta, dispensando sem cerimónias o mundo e os Homens, Deus e o Diabo, o Céu e o Inferno.

Nelson, Nelsinho, dramaturgo, poeta de um quotidiano carioca que era, nos idos de 60, um doce quotidiano tablóide, estava nos antípodas das delícias desse Vinicius que preconizava, ainda assim, que num soneto de fidelidade desejou ao amor “Que não seja imortal, posto que é chama / Mas que seja infinito enquanto dure”.

Nelson não tinha a volúpia baudelairiana de Vinícius. Era mais da honesta e viril família do grande Rossellini que, nos seus filmes, sobretudo em Viagem em Itália, pintou Ingrid Bergman a uma luz que muito mais exaltava a esposa do que a aventureira. Ou talvez Nelsinho fosse da família de T. S. Eliot que com públicas palavras (abaixo canhestramente traduzidas) veio louvar a rosa do seu mais íntimo jardim.

DEDICATÓRIA À MINHA MULHER

Àquela a quem devo a sobressaltada delícia
Que acelera os meus sentidos ao acordar
E o ritmo que governa o repouso do nosso sono,
A respiração em uníssono

Dos amantes cujos corpos cheiram um ao outro
Que têm os mesmos pensamentos sem precisar de falar
E balbuciam os mesmos sons sem necessidade de sentido.

Nem o vento do inverno agreste gelará
Nem o sol do trópico inóspito fará mais brancas
As rosas do jardim que é nosso e só nosso

Mas esta dedicatória é para outros lerem:
Estas são palavras privadas que te dirijo em público.

T.S.Eliot, A Dedication to my Wife
In The Penguin Book of Love Poetry (p.70)

E nós? Ao tomarmos a bica ao balcão, perpassa por nós a nostalgia da moreninha que amámos entre a Primária e o Liceu? Em pleno Estádio da Luz, cantaríamos em público e sem pudor a doçura do Lar? Ainda haverá alguém que se atravesse para falar no amor?

 

Batendo nos fins de tarde

Deviam, as memórias, ser cada vez mais ténues. Mas vêm, em gigantesco assombro, rasando as manhãs, batendo nos fins de tarde, forte caudal de águas lunares, reflexos luminosos a rasgar as trevas. O passado é o sangue do presente, agitado, de uma feroz e persistente presença. Tenho a velhice cheia de gritos juvenis. Hoje, como há oito anos quando escrevi esta nota, volto a ter 20 anos, volto a embarcar nesse camião fervente, de corpos na busca utópica de um destino. 

multidão
a multidão

Podia escre­ver um livro: bastava-me dizer tudo o que não sei.

Em 1975, na cidade do Lobito. Gos­tava de me ter visto. E se me visse agora, veria exac­ta­mente o quê?

Era uma coluna de camiões a atra­ves­sar a cidade sur­pre­en­dida. Milha­res de umbun­dos. Vinham do mato, dos kim­bos. Vinham de bair­ros que os bran­cos nem sus­pei­ta­vam. Nenhum daque­les homens era só um homem: che­ga­vam e entra­vam como uma mul­ti­dão, uma epi­de­mia que desa­guava no san­gue da cidade. Podia escre­ver um livro com o que já então não sabia sobre essa mul­ti­dão umbunda do éme pé lá. Pequena mul­ti­dão com­pa­rada com a gigan­tesca, her­cú­lea multidão, que a Unita nes­ses dias havia de juntar.

Num dos camiões iam os meus vinte anos. Eu ia sozi­nho. O vírus branco no meio da mul­ti­dão bantu. O rapa­zi­nho de Luanda no meio dos umbun­dos, rapa­zi­nho de óculos e barba mal feita. O meu camião negro, que o MPLA tra­zia para se mani­fes­tar con­tra o galo negro de Savimbi, can­tava em umbundo con­tra o chi­co­ro­nho, o colono, o branco que tinha de se ir embora. O camião negro em que eu ia olhava-me com um misto de iro­nia e com­pai­xão enquanto can­tava em umbundo: branco, colono, vai-te embora.

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O que é que eu veria se, agora, no meio dos camiões mili­tan­tes, inde­pen­den­tis­tas, ango­la­nos, negros, visse os cabe­los sol­tos, hip­pies, de um espú­rio rapa­zi­nho branco… Podia escre­ver um livro com esta ideia: a inde­pen­dên­cia era a única forma de expe­ri­men­tar a minha soli­dão branca.

Podia escre­ver um livro se Miles Davis, a trom­pete e soli­dão, não o tivesse escrito já.