Setembro ou seca as fontes ou leva as pontes

Nem uma coisa nem outra. Este Setembro pandémico nem secou as fontes, nem levou as pontes. Como foi um mês de Feira do Livro, os nossos leitores preferiram vir comprar livros ao vivo, ao nosso pavilhão no Parque ou nos jardins do Porto – e se compraram livros.

Mesmo assim, aqui no site, tivemos muitas visitas e o nosso melhor leitor do mês levou livros no valor de 166,87€, de uma assentada só. É, até agora, o melhor comprador do mês e levará, por isso, se não vier ninguém arrebatar-lhe o Prémio, os cinco livros da imagem junta: é uma bela colecção que teremos todo o gosto em oferecer-lhe. 

Para o melhor comprador do ano temos reservados 50 livros de Prémio. Já temos dois leitores a ultrapassar o objectivo de compras no valor igual ou superior a 450€. 

As regras destes Prémios, já sabe, estão aqui.

A ressurreição da sátira: Poemas em Tempo de Peste

Merda para esta vida de paz,
diria, se fosse escritor naturalista:
porque, já agora, tanto me faz
comer um bife ou simplesmente alpista.

Com esta desembaraçada franqueza, o poeta Eugénio Lisboa enfrenta, desabafa, ri-se e faz-nos rir deste perigoso mundo em que um vírus nos pôs a viver. Poemas em Tempo de Peste não é só um livro de poemas, é uma aventura em que se fundem literatura e vida. Ah, mas fundem-se com um grande sentido lúdico e um melancólico langor, que tanto toca em Camões, Eliot ou Almada, como no sabor a paraíso de uma África que já foi, porque «o passado sempre conta / quando o vírus já desponta!»

À mesa destes Poemas em Tempo de Peste, são chamados a sentar-se os grandes do mundo. De um Trump «fodido», diz Eugénio Lisboa, «Que chatice se ele ficasse / no governo e nos lixasse», para logo se espantar com a nossa presidente do Banco Central Europeu:

A Senhora Christine Lagarde
acha que os velhos vivem demais;
pra que a economia se resguarde
há que apressar os ritos finais.

A política nacional merece outros mimos a Eugénio Lisboa. Como este aceno a um deputado:

O Nuno Melo tem medo
de tudo que não conhece
e tornou-se, muito cedo,
activo no Cê Dê Esse.

Ou este mimo escatológico a um partido exuberante:

Fala o CHEGA como bufa,
não conhece outro falar:
quando tenta uma chufa,
fá-lo como a evacuar!

Os Poemas em Tempo de Peste de Eugénio Lisboa tanto cantam o admirável Pinto da Costa em decassílabos (não murchos) «com umas rimas do caraças», como exaltam em redondilha maior o génio singular de Gonçalo M. Tavares:

Ele diz coisas geniais
e diz coisas pessoais,
mas as coisas pessoais
não são nunca geniais
e as coisas geniais
mais parecem de jograis!

Poemas em Tempo de Peste não é só um livro, é a ressurreição da sátira, e é um reencontro da poesia com o riso libérrimo. Poesia clara que nos sacode da letargia destes dias e nos convida à plenitude da vida:

Lixe-se a melancolia,
refúgio de quem não luta,
e combata-se, de dia,
o vírus filho da puta!

Lê-se com sofreguidão e gosto: em confinamento ou na rua, em silêncio ou em voz alta. Há quanto tempo já não lhe falavam de um livro assim?
Chama-se Poemas em Tempo de Peste. Eugénio Lisboa é o seu autor. Uma edição da Guerra e Paz, para ler já a partir do dia 29 de Setembro, numa livraria perto de si ou no site da editora.

Novos Livros: língua, viagem e pensamento

Já tínhamos saudades de apresentar novos livros aos nossos leitores. Dois deles ainda puseram um pezinho na Feira do Livro de Lisboa. 

Pontuação em Português é mais uma obra de serviço público de Marco Neves: vai ajudar-nos a escrever melhor, ensinando-nos – há livros que sabem ensinar! – a pôr vírgulas e pontos e vírgulas. Estávamos a precisar, vírgula, e ponto final. 

Na outra ponta da imagem, está este belo África no Mundo Livre das Imposturas Identitárias. É um livro de combate de Jonuel Gonçalves, nosso autor de mais três livros e comentador regular do Público e da RDP. Jonuel traz-nos uma África revoltadas que recusa as hoje tão cantadas e radicalizadas teorias identitárias, acusando-as de serem inimigas da cidadania. Eis a revolta de África contra tudo o que legitime políticas de atraso e obste à integração africana no mundo.

Por fim, regressa a prosa viva e límpida de António Graça de Abreu. No seu quarto livro para a Guerra e Paz, Odisseia Magnífica, leva-nos de viagem, repetindo – quase! quase! – o périplo de Fernão de Magalhães. Literatura de viagem em muito bom português.

Língua, viagem e pensamento em três livros que fazem mais forte a não-ficção da Guerra e Paz.

Guerra e Paz, haja Deus!

É final e oficial: esta foi a melhor Feira do Livro de sempre da Guerra e Paz editores. Passámos de um para dois stands, ganhámos visibilidade e mais capacidade de exposição dos nossos livros e os leitores responderam. Foram estes os 25 livros mais procurados e mais vendidos:

  1.        Bernard-Henry Lévy, ESTE VÍRUS QUE NOS ENLOUQUECE
  2.        Isaiah Berlin, O OURIÇO E A RAPOSA
  3.        Adolf Hitler, MEIN KAMPF
  4.        François-Xavier Fauvelle, ATLAS HISTÓRICO DE ÁFRICA
  5.        Louise May Alcott, MULHERZINHAS
  6.        André Osório, OBSERVAÇÃO DA GRAVIDADE
  7.        Fernando Venâncio, ASSIM NASCEU UMA LÍNGUA
  8.        Jane Austen, ORGULHO E PRECONCEITO
  9.        Herman Melville, MOBY DICK
  10.    Sun Tzu, A ARTE DA GUERRA
  11.    Vários, CONTOS TRADICIONAIS PORTUGUESES
  12.    Mao-Tsé Tung, O PEQUENO LIVRO VERMELHO
  13.    Machado de Assis, MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS
  14.    Marco Neves, GRAMÁTICA PARA TODOS – O PORTUGUÊS NA PONTA DA LÍNGUA
  15.    Louise May Alcott, BOAS ESPOSAS
  16.    Gustave Flaubert, MADAME BOVARY
  17.    Machado de Assis, DOM CASMURRO
  18.    Oscar Wilde, O RETRATO DE DORIAN GRAY
  19.    Machado de Assis, O ALIENISTA
  20.    Inês Leitão, O ÚLTIMO EXORCISTA DE LISBOA
  21.    Stendhal, O VERMELHO E O NEGRO
  22.    João Pedro Marques, ESCRAVATURA
  23.    Marco Neves, PONTUAÇÃO EM PORTUGUÊS
  24.    Nataniel Hawthorne, A LETRA ESCARLATE
  25.    Marco Neves, ALMANAQUE DA LÍNGUA PORTUGUESA

O que mais me agrada, nestes 25 livros, é a qualidade literária ou o valor histórico, linguístico, filosófico que têm e que é consensual. Destes 25 títulos, 11 são clássicos da literatura mundial. Dois são da nossa trilogia de livros malditos, o “Mein Kampf” e o livro de Mao Tsé-tung. Não está o “Manifesto Comunista” por ter esgotado: a nova edição sai, agora, em Outubro. Machado de Assis, com três livros é o romancista mais representado. Na não-ficção, o linguista Marco Neves tem também três livros no top, com essa fantástica surpresa da sua “Pontuação em Português”, num fim de semana apenas, ter irrompido top dentro, imparável.

Das nossas mais recentes, para não dizer recentíssimas apostas, os nossos leitores benzeram generosamente o “Este Vírus” de Bernard-Henri Lévy, “O Ouriço e a Raposa”, de Isaiah Berlin, e o “Atlas Histórico de África”, de François-Xavier Fauvelle.

E permitam-me um consolado desabafo melancólico. Alguns amigos disseram-me que agora sim, a Guerra e Paz tem um catálogo atractivo, com colecções de Livros Amarelos, Livros Vermelhos, Clássicos, e apostas em História, Filosofia e Língua Portuguesa marcantes. Agradeço a esses amigos as palavras de estímulo e apoio. A Guerra e Paz passou por anos terríveis. Um distribuidor, na sua insolvência, levou-nos, em 2012, um ano inteiro de facturação. Não recebemos essa receita, golpe brutal para uma pequena empresa, mas pagámos a todos os autores e outros parceiros, todos os montantes que nunca recebemos. E, em 2015, ainda com a ameaça da falência em cima de nós, começámos a construir os Clássicos. Logo a seguir, 2016, a trilogia de livros malditos e os Livros Amarelos. Há dois anos, os Livros Vermelhos, e podia falar das colecções com a Sociedade Portuguesa de Autores, as Correspondências de Jorge de Sena, os livros de luxo, em madeira. Ou mesmo, a nossa colecção mais austera de poesia.

Em plena pandemia, com todos os riscos e ameaças que pairam sobre o mundo do livro e a edição em Portugal, com uma economia ainda frágil, recuperámos. Saneámos as nossas finanças, ao mesmo tempo que construímos uma imagem, a “imagem Guerra e Paz”, com escolhas editoriais e gráficas que têm coerência e identidade.

Muitas foram as nossas parcerias, a mais longa, persistente, de grande abertura e franqueza, é a que mantemos com a Sociedade Portuguesa de Autores, com o impulso permanente de José Jorge Letria. Há uma tipografia que foi, em particular nos tempos difíceis, mais do que uma tipografia, a “nossa” Publito, de Braga. E quem, há oito anos, nos dá colo é a VASP, que connosco aceitou entrar na distribuição de livros e continua a ser o nosso braço e o nosso ombro: obrigado, Fernando Guedes da Silva.

Perdoem-me o desabafo, mas tinha, para que conste, de contar esta história. É uma história em que tiveram um lugar destacado, esforçado e entusiasta os trabalhadores da editora. O meu designer gráfico, Ilídio Vasco, que entrou para a editora aos 6 anos de idade, se bem me lembro e fez a única capa de madeira que há no mundo. Na parte editorial a incansável e perfeccionista Inês Figueiras (mas também a Ana Salgado, Marília Laranjeira e o André Morgado e, antes, o Helder Guégués). O Américo Araújo, nosso comercial, que vê à lupa livrarias e quiosques e levou esta Feira aos ombros. O Mário Borges, que luta, como antes lutara a Vânia Custódio, por nos pôr nas capas dos jornais e de vez em quando num telejornal. A Carla Castela, que entrou menina e menina continua, gerindo contratos, avances e duplas tributações, enquanto lê Novalis ou Hölderlin. Quem sofreu comigo as muitas e tremendas dores financeiras foi o José Cardoso, que já tem um doutoramento anti-insolvência. São eles a Guerra, a minha Paz.

Aos meus sócios, devo uma tonelada de confiança e de amizade. Abílio Nunes, o mais antigo, António Parente, com a sua força de leão, Pedro Henriques, o mais jovem e idealista. A eles, e ao “muito obrigado, meus generosos amigos”, junto o António Palma, leal e inteligentíssimo conselheiro.

É verdade que não devemos nada a autores e a fornecedores, mas o que eu devo, meu Deus, a toda esta boa gente. Cada capa, cada livro, cada colecção, a eles a devo. Guerra e Paz, haja Deus!

Até o Presidente se sentou à nossa mesa a assinar livros. Aqui, com Fernando Tordo.

Servimos delícias

A melhor Feira do Livro de sempre da Guerra e Paz merece a delícia de uma conversa como esta. O que é que uma poeta tem a dizer a dois linguistas? E o que têm dois linguistas, Fernando Venâncio e Marco Neves, a dizer à poeta Eugénia de Vasconcellos? Tudo? Nada? Suponhamos que todos têm tudo a dizer. Como se mete tudo no tão pouco tempo que são 45 minutos? E se, obstinados, não quiserem dizer nada uns aos outros? O que acontecerá à Feira do Livro, a Lisboa, submersas em 45 minutos de imperturbado e espesso silêncio?

Não é um dilema, é uma delícia o que neste domingo, às 14:00, num dos derradeiros eventos da Feira do Livro, vai acontecer no pavilhão Poente, lá no alto do Parque Eduardo VII, do lado esquerdo de quem sobre vindo do Marquês. Eugénia, Fernando e Marco, três autores da Guerra e Paz.