FMI, de José Mário Branco

Há cinco anos, quase seis, escrevi este texto. Um desabafo meu. Agora, sem lhe mudar uma linha, deixo-o aqui. É isto que, a par de uma lúdica e calmíssima simpatia, me ligava ao José Mário.

Chamar-lhe can­ção é pouco. É poema. Voz e corpo em transe num palco. Ouvi este “FMI” antes de ser gra­vado. Foi na noite em que conheci mesmo o João Bénard, em casa do meu melhor pro­fes­sor de filo­so­fia, o José Gabriel. Ali, na sala, o José Mário can­tou e disse, e disse cho­rando, o “FMI”. Foi um tumulto, o peito de cada um de nós, na sala, tomado por uma lou­cura rubra.

O texto, a tor­rente de vio­lên­cia deste texto, terá sur­gido como uma erup­ção ao seu autor. Diz José Mário, no preâm­bulo, que tudo lhe acon­te­ceu numa noite de Feve­reiro de 1979. Não ignoro o ferro e fogo da men­sa­gem polí­tica. Mas perdoar-me-ão e perdoar-me-á até o grande cora­ção do José Mário, além das nada des­pi­ci­en­das cir­cuns­tân­cias, que de outra maneira (ou será a mesma?) Por­tu­gal há pouco repetiu, esta can­ção, este texto que é muito mais uivo do que outros poé­ti­cos uivos, está para lá da men­sa­gem polí­tica que con­tém. Quando, em escrita auto­má­tica, sur­real, José Mário começa a desfo­lhar o mal­me­quer – né, filho? – quando a cada um per­gunta, e em cada um é sobre­tudo a si mesmo que se per­gunta, onde está o teu extremo ori­ente, filho?, naquele ritmo de pop-chula, na iro­nia rai­vosa, no negro sar­casmo, o que se ouve é a voz e o canto de um homem sozi­nho, a cami­nhar na sua ter­rí­vel, irre­ver­sí­vel solidão.

A mim, que não par­ti­lho a lei­tura polí­tica a que legi­ti­ma­mente se pode que­rer resu­mir ou ligar esta can­ção, o que nela me incen­deia é o indi­vi­du­a­lismo radi­cal, inós­pito, essa angús­tia do cara­lho de um tipo que se sofre sofrendo o mundo. Cada pala­vra, que em “FMI” se diz e canta, tem uma cabeça fabu­losa, é uma cri­a­tura viva, física. E o indi­vi­du­a­lismo vis­ce­ral, que iro­ni­ca­mente con­trasta com a tin­ta­gem ide­o­ló­gica colec­ti­vista, é que é o arco e a fle­cha desta can­ção. Busca pes­so­ana de um mar que nos ensi­nava a sonhar alto, “FMI” é a can­ção, o vio­lento ran­ger de den­tes de um homem que quer res­pi­rar a feli­ci­dade. Esta é a can­ção do homem que quer que se foda, e quer ser feliz, agora. Se for­mos exi­gen­tes, não há desejo mais extremo nem mais egoísta. Tanto que, desse caos de cul­pas noc­tur­nas e antiquís­si­mas, desse deserto de angús­tias sem saída, este “FMI” só se res­gata no apelo de baba e ranho à mãe, ao nome da mãe sete vezes gritado.

Ouvi-o, na sala da casa do meu pro­fes­sor de filo­so­fia antiga, numa noite de 1979. Poema, can­ção, mani­festo ful­mi­nante. E soube, então, que a esta angús­tia nunca se escapa, desta angús­tia nada, nin­guém nos salva. Cada um de nós está sozi­nho e grita, de um ven­tre de medo, o nome mãe a um muro de tre­vas. Sete, setenta vezes.

PR - 15 JUNHO 02 - CONCERTO DE JOSE MARIO BRANCO ++ NO RIVOLI
Ele com o seu sorriso tão bonito

 

Livros que queremos oferecer

Diz-me o editor da Guerra e Paz que eu devo oferecer estes livros. A quem gosto, sublinha ele. Por acaso – mas só por acaso – não acho mal pensado e passo a palavra.

É que nem lhe vou falar de Natal. E como estou na dúvida, se devo falar de amor ou se devo falar de amizade, deixe-me falar de afinidades electivas, essa relação que temos, na fímbria do amor e no coração da amizade, com aquelas pessoas com quem queremos falar horas, mas com quem poderíamos estar, em silêncio, uma tarde inteira, tanta é a proximidade ou a harmonia que essa proximidade nos traz.

É com essas pessoas, com essas afinidades electivas que queremos partilhar sentimentos e emoções. Deixe-me, como editor da Guerra e Paz, sugerir-lhe que ofereça livros, e que esses livros sejam livros com sentido e gosto estético, livros que irradiam harmonia e equilíbrio.

Tem sido essa uma das linhas editoriais da Guerra e Paz: fazer livros que apelem, desde o primeiro toque, pela capa, pelo papel, pela combinação de texto e imagem, à alegria, à emoção, fazendo-nos sentir melhores.

Porque são muito bonitos, porque têm textos belíssimos, ofereça estes livros. Temos até uma hierarquia. Ora veja:

Se quer impressionar, arrancar uma exclamação, escolha a originalidade visual em meia caixa de madeira e a dimensão da edição em cinco línguas da Tabacaria, com uma colecção de fotografias contemporâneas da Baixa de Lisboa, onde Pessoa escreveu, a fingir que era Álvaro de Campos, o mais belo poema do século XX português. Ou escolha a irreverência erótica, que vai da capa ao texto e à pintura que o acompanha, de O Físico Prodigioso, de Jorge de Sena.

Se quer uma prenda clássica, toda harmonia e sem sobressalto, a prenda certa é Contradança, Cartas e Poemas de Camões, reunindo as cartas do nosso maior poeta e as ilustrações do espião holandês Jan Huyghen van Linschoten. Ou então o sereníssimo pequeno livro que Vasco Graça Moura escreveu sobre Os Retratos de Camões, tão elegantemente ilustrado. E ainda, tocando uma sensível temática contemporânea, o belo Muros, livro em que José Jorge Letria, nos leva, em peregrinação aos muros que a humanidade que somos tem erguido ao longo dos séculos.

Há uma prenda inclassificável, porque é clássica e é turbulenta, tem humor e tem sentimento: dar os belos livros que fizemos com Agustina: a originalíssima autobiografia, repleta de fotos, que Agustina escreveu para a nossa editora, O Livro de Agustina, ou as 15 narrativas, Fama e Segredo da História de Portugal, de Afonso Henriques a Salazar, em que Agustina nos conta, à sua maneira sublime e transgressora, os segredos e mistérios da nossa História, livro que temos em formato grande e formato pequeno.

Há prendas mais ousadas? Há! Ambos com as faces do miolo pintadas à mão – a vermelho, claro – há dois livros que apertarão ainda mais a estreita relação que já tenha com essa afinidade electiva que não vamos agora nomear. Mostre que tem gosto e que tem um vigor rebelde, oferecendo O Bordel das Musas, ou as nove donzelas putas, um livro de delicado erotismo, de um poeta morto na fogueira em Paris, Claude Le Petir, e que João Cutileiro ilustrou com ainda mais delicados desenhos originais.  Ou ofereça, uma das antologias de Fernando Pessoa – a mais original que já fizemos – que tem um título simples, Minha Mulher, a Solidão, mas cujos segredos estão à mostra nos dois amplos subtítulos; Conselhos a Casadas, Malcasadas e Algumas Solteiras, com um segundo livro concupiscente de corpo nu.

Bem sei, vai dizer-me que são livros de luxo, com preços incomportáveis. Teria razão, não se desse o caso de o Américo Araújo, responsável comercial da Guerra e Paz, ter decidido, num acto radical, oferecer estes livros com 50% de desconto. O mais caro de todos fica agora a 37,5€ e há livros ao escandaloso preço de 10€, talvez até menos.

E peço desculpa, mas insisto: o maior aliciante para comprar estes livros é uma combinação que nos enriquece: são muito bonitos e são, por mérito dos seus autores, muito bons.

A Lady e o Amante

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Bica Curta servida no CM, 4.ª, dia 13 de Novembro

No ano em que o seu autor o escreveu, ninguém se atreveria a ir tomar a bica curta levando na mão “O Amante de Lady Chatterley”. O romance conta, de forma tão bela como explícita, a escaldante relação de uma mulher casada e aristocrata com o seu viril guarda de caça. Foi em 1917, podia fazer-se a Revolução de Outubro, mas a erótica fusão de distintas classes sociais, está quieto ó meu!

Só em 1960, faz agora 59 anos, os ingleses o editaram, vendendo 200 mil livros no primeiro dia. Mesmo assim, na Escócia queimaram exemplares e no País de Gales as livreiras recusaram segurar no livro com as mãos. O Reino Unido é um bicho bizarro.

Zé Mário, qual é a tua, ó meu?

JMBranco

Para onde foi, para tão longe, o Zé Mário que hoje nos deixou? Estava eu sentado, em Luanda, nos meus 17 anos, e quem me mostrou o primeiro álbum dele foi o Carlos Brandão Lucas. O nosso grande patrão Carlos, o António Macedo, o Artur Neves e o Emílio Cosme tinham-me adoptado e metido no programa Equipa, da Emissora Católica de Angola. E puseram-me a ouvir, e a Luanda inteira, o “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Não era um álbum, era a recriação do meu mundo de sentimentos, de ideias, de emoções. Só queria cantar, soubesse eu cantar, a “Queixa das almas jovens censuradas” e, para que nunca mais o voltássemos a ficar, que cantássemos todos o “Perfilados de Medo”. Nesse álbum, a palavra mulher era dita, ou entoada, de uma maneira tão diferente. “Mariazinha” e “Casa comigo Marta” traziam um toque plangente ou ironicamente subversivo à figura feminina. O que nesses versos e acordes aprenderam da mulher os meus olhos e ouvidos: quem tem olhos que veja, quem tem ouvidos que ouça.

Nunca, nesses dias de remanso colonial, imaginei que viria a conhecer o Zé Mário. Mas conheci, no Teatro do Mundo, para onde me levaram. E em casa do Zé Gabriel e da Manela. Um dia, estavam lá todos, com o João Bénard também, e eu sentado no chão. Foi quando o Zé Mário disse, “queria que ouvissem uma canção que ainda não gravei”. E o que ele cantou era um rumor de tempestade, uma torrente imparável de som e fúria sacudida por um riso shakespeariano. Cantou ali o “FMI”. Nunca houve, depois de ele acabar de cantar, nenhum silêncio como aquele silêncio. Em cada um de nós havia, entre a cabeça e o peito, vulcão e lava.

Depois, já com a minha Antónia, e ele sempre com a Manela de Freitas, em todas as peças do Teatro do Mundo, em casa do Carlos do Carmo, na companhia do Zé António ou do meu saudoso Chico Grave, a jantar no Sete Mares ou a beber bicas no senhor César, em Altura, encontrar o Zé Mário era um romance. Nunca levantei com ele punhinhos no ar, nem ele mo pediria. Mas a inteligentíssima gentileza dele era o hino à humanidade a que era impossível não aderir.

Um dia, nessa aldeola que é Altura, a três passos de Espanha, vinha eu da praia, pendurado na Antónia, quando o vimos no meio das dunas, os netos ao lado. “Zé Mário, como é, de que andam aí à procura?” “Qual procura! Estamos a fazer a Volta à França!” Com os netos, caricas a fingir de ciclistas, estradas desenhadas nas dunas, estava ali, joelhos na areia, t-shirt e calção de banho, um tipo cheio de música, cantor, compositor, produtor, criador dos mais belos arranjos, essa almofada que fez o conforto de José Afonso, de Carlos do Carmo, de Camané.

Bem sei, Zé Mário, o que sempre prometeste: “Eu vou p’ra longe, p’ra muito longe.” Mas assim, ainda tão cedo? Qual é a tua ó meu?

As crianças, Senhor

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Bica Curta servida no CM, 3.ª feira, dia 12 de Novembro
Alguém quer tomar a bica curta com uma câmara apontada à cara e ligada a um sistema central de reconhecimento facial? Ninguém, diria Gil Vicente. Mas Todo-o-Mundo quer, e bem, salvar as crianças. Ora foi um sistema centralizado de reconhecimento facial, numa operação da polícia indiana com uma ONG, que salvou onze mil crianças.

Na Índia há 300 mil crianças desaparecidas. São traficadas, forçadas a trabalhar nos campos ou em fábricas, até em bordéis. Usando a tecnologia de reconhecimento da polícia de Nova Deli foi possível resgatar as crianças e levá-las a casa e à família.

O bem ou o mal está na mão que usa a tecnologia.

Talvez Umberto Eco venha almoçar

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O que é que separa cada um de nós, condoídos mortais, de Umberto Eco? Vejamos, juraria que Eco ia gostar de comer uma cabeça de garoupa grelhada no Verde Gaio, como a que os meus amigos Manolo Bello, Francisco Balsemão e Pedro Norton, partilharam comigo com a promessa de repetirmos ainda por cumprir. Umberto Eco havia de se lamber e relamber com o fondue de mariscos e peixes do Go Juu, ao lado do editor amigo Guilherme Valente ou do mais cinéfilos dos cirurgiões, o meu camarada António Setúbal.

Eis o que, a nós, comuns mortais, apreciadores de grelhados e fondues, nos separa de Eco: o filme “Casablanca”. Disse ele, ajuramentado e exímio: “Sejam quais forem os parâmetros de análise crítica, ‘Casablanca’ é um filme medíocre.”

Umberto não gosta de “Casablanca”. Ora nós, comuns mortais, agarrando “Casablanca” pelo laço de Bogart, pelo chapéu de Ingrid Bergman ou pela cauda, se ele tivesse cauda, do piano do fabuloso Sam, adoramos “Casablanca”, filme que os argumentistas americanos elegeram, há tempos, como o mais bem escrito filme de sempre.

Ia perguntar se ainda se lembram de “Casablanca” e peço desculpa se vos ofendi. Toda a gente se lembra da maravilhosa espelunca que é o bar de Bogart, o Rick’s. Naqueles cento e tal metros quadrados vive um mundo. Todos têm uma história suspensa, todos querem comprar ou vender alguma coisa. E todos têm a palavra “não” na ponta da língua. Ou respondem torto. Não há “sins” no começo de “Casablanca”. A contradição é unânime e é muita gente a dizer que não, porque toda a gente fala, o chefe do bar, as personagens secundárias em busca de vistos, mesmo o pianista, os alemães.

É esse conflito de mil vozes e de mil pequeninas vontades particulares, a dos escroques e carteiristas, a dos polícias franceses, dos militares nazis, dos refugiados, que gera em nós, espectadores comuns que apreciamos peixe grelhado e fondue de marisco, uma euforia de que nunca mais nos livramos e de nunca, nos dias da nossa vida, quereremos livrar-nos.

Mas olhem, não sei se atraído pelo aroma das ameijoas ao vapor com pargo grelhado em molho de saké, Umberto Eco quer conversa. Sem deixar de fincar o pé na mediocridade, e servindo-se de uma generosa dose de napolitano puro acaso al aglio e olio, Eco já corrige o tiro e diz que “Casablanca” está carregado de arquétipos, esse molho que liga tão bem os velhos e recozidos mitos e o sápido arroz com feijão de Ilíadas, Odisseias e Bíblias. Esses arquétipos, diz ele, fazem fluir uma narrativa poderosa em estado puro. Ou seja, sem nos doer nada e em estado de exabundante fruição, nós, espectadores comuns, vamos dos braços de Borgart para os de Ingrid Bergman, derramamo-nos pelo chão ao piano de Dooley Wilson, subimos ao céu a cantar “A Marselhesa” e disparamos sem piedade no bucho do execrável nazi.

Umberto tem pena que a Arte, uma velha senhora que já não é dada a prazeres de boca, não tenha vindo disciplinar a orgia que acabo de descrever. Eu canto e louvo essa falta de comparência da reputada senhora e agradeço à cambada de artesãos medievais que edificou “Casablanca”, do realizador Michael Curtiz ao produtor Hal B. Wallis, o prodígio de tanta indisciplina. Só assim “Casablanca” poderia ter atingido essa “profundidade homérica” que o regalado Eco afinal reconhece no filme e que, diz ele, e eu repito à minha maneira, é um fenómeno digno de espanto e reverência. Confesso, tenho um fraquinho por Eco e tenho a certeza de que teríamos cantado juntos “A Marselhesa”, se tivéssemos visto “Casablanca” na mesma sala.

Publicado na minha coluna “Vidas de Perigo, Vidas sem Castigo”, no Jornal de Negócios

Prémio Pen Clube para “Estudos sobre Heidegger”

O Pen Clube Português atribuiu o Prémio Pen Clube 2019, no género Ensaio, a um livro da Guerra e Paz editores, “Estudos sobre Heidegger”, da autoria da professora Mafalda Blanc. “Estudos sobre Heidegger” partilha o prémio ex-aequo com a obra “O Drama de Magalhães e a Volta ao Mundo Sem Querer”, da autoria de Luis Filipe Thomas, editado pela Gradiva.

A Guerra e Paz felicita a sua autora, Mafalda de Faria Blanc, pela atribuição do prémio e pelo merecido reconhecimento público dos méritos deste seu “Estudos sobre Heidegger”. Saúda igualmente o outro premiado, o historiador Luiz Filipe Thomaz e a sua editora, a Gradiva.

O júri que atribuiu o prémio foi constituído pelo poeta, ficcionista e ensaísta Ernesto Rodrigues, a professora e doutorada em Literatura Alemã Fernanda Mota Alves e o professor catedrático em Estudos Ingleses Mário Avelar.

“Estudos sobre Heidegger” trata os principais temas das investigações filosóficas do autor, respeitando a evolução diacrónica desses temas ao longo dos três grandes períodos que marcam o pensamento do filósofo, o da Analítica existencial, o da História do ser e o da Topologia do ser, restituindo-nos um pensamento aberto, mais apostado em compreender do que em afirmar, um pensamento à medida do humano e da sua finitude.

Em defesa da alegria

Seberg

Se, excluída a sobrevivência e reprodução da espécie, fosse obrigado a escolher só uma das coisas que me dá prazer, escolhia a leitura. Ler é melhor do que tudo, do que ouvir música, do que ver futebol, muito melhor do que escrever.

Estou a dizer isto e leio o que Borges escreveu sobre um ensaio em que Montaigne fala de livros e de leitura:

Nesse ensaio há uma frase memorável: “Não faço nada sem alegria.” Montaigne dá a entender que o conceito de leitura obrigatória é um conceito falso. Diz que se encontra uma passagem difícil num livro, logo o deixa; porque vê na leitura uma forma de felicidade.

Recordo que há muitos anos se realizou uma sondagem sobre o que é a pintura. Interrogada, a minha irmã Nora respondeu que a pintura é a arte de dar alegria com formas e cores. Diria que a literatura é também uma forma de alegria. Se lemos algo com dificuldade, o autor fracassou. Por isso considero que um escritor como Joyce no essencial fracassou, porque a sua obra requer um esforço.”

Eis a grande missão do escritor: escrever tão bem que o leitor não tenha esquinas nem obstáculos. Dito de outra maneira: saber dar alegria, espalhar a felicidade linha a linha.