Só a liberdade de pensamento nos salva

Estas foram as Bicas Curtas que publiquei no CM, nos dias 14, 15 e 16 de Janeiro. Chegam aqui tarde e más horas, mas chegam. E com um abraço aos leitores e seguidores desta Página Negra

Trump

Trump e o aiatola

Um general iraniano que instigou massacres foi selectivamente assassinado. Depois, um avião com 176 inocentes foi abatido. De Trump disse-se que é um desequilibrado. E é. Para falar do aiatola iraniano invocou-se a milenar civilização persa. Ora, este, como outros aiatolas, é o coveiro dessa civilização.

Houve quem jurasse que o Irão se uniria contra Trump. Mas há manifestações nas ruas de Teerão a pedir a morte do aiatola ditador. Os manifestantes sim, querem trazer a milenar civilização iraniana para o século XXI, abjurando a teocracia. Eis a diferenças: Trump é um tonto imprevisível, mas o aiatola é o rosto da repressão.

O buraco da agulha

 O meu pai era um simples trabalhador. Dir-me-ia, se fosse vivo: “Nada protege mais os pobres, os remediados, a gente comum do que o trabalho.” O mundo mudou, claro; e os ricos também. O agnóstico que sou tem saudades dos valores cristãos a que a moral dos ricos, se queriam ser bons, se ajoelhava. Não era só a discrição de saberem que era mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que entrar um rico no reino dos céus. Era também a obrigação de rectidão, um sentido de responsabilidade pessoal pelos mais desfavorecidos, sem o desbragamento da última década. Terá ainda a moral, no futuro dos ricos, uma palavra a dizer?

Expulsos do paraíso

Se o Papa não é infalível muito menos o é a jovem Greta Thunberg. O Papa volta a expulsar o homem do paraíso, acusando-o de arrogância pelo domínio dos recursos do mundo. Greta trava o crescimento, revoltada com a indústria e o comércio. Estão errados. Sem ciência e crescimento nem 100 milhões viveriam no mundo onde vivem 7,7 mil milhões de seres humanos com o mais alto grau de bem-estar conhecido.  Crescimento, ciência e tecnologia vão desencantar fontes de energia com zero de emissões de carbono, formas de extracção do CO2 da atmosfera, geo-engenharia para gerir a luz do sol. Não é utopia, são armas ao nosso alcance.

Francsco

O melhor dos mundos

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Bica Curta servida no Cm, dia 2 de Janeiro

Imagine que acordava na Grã-Bretanha de 1 de Janeiro de 1800. Viveria no país mais rico do mundo: esperança de vida 36 anos e rendimento anual de três mil euros. Fuja do pesadelo e regresse ao século XXI. Hoje, no país mais pobre, a Zâmbia, a esperança de vida passa os 50 anos e o rendimento é superior ao daqueles ricos ingleses.

Os anos 20 começam aos ombros da década mais generosa que a humanidade viveu: os padrões de bem-estar, nutrição, recursos, saúde são os melhores de sempre. O que nos trouxe até aqui foi um capitalismo gerido por gente que se adapta à realidade. Para este peditório, apocalipse e revolução deram zero.

Os ricos dos outros

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Bica Curta servida no CM, na 4.ª feira, dia 4 de Dezembro

Os suecos amam os seus super-ricos, bebem a bica com eles e até comeriam juntos uma sandes de courato se lá houvesse sandes de couratos. Li no insuspeito The Economist: a Suécia é dos países do mundo com mais desigualdade na distribuição da riqueza. Mas os bilionários gozam da popularidade de Marcelo numa feira e ninguém quer criar impostos especiais para dar tau-tau aos super-ricos. Acham que esse imposto ajudaria menos o estado social do que o livre desenvolvimento de multinacionais como a Volvo, Ikea, H&M e Spotify.

Os nossos ricos não ajudam e termos herdado contra eles um ressentimento salazaristo-comunista ainda menos ajuda.

Bicas a sonhar com o futuro

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 Estas foram as bicas servidas no CM, de 3.ª, dia 22, a 5.ª, dia 24 de Outubro

Um futuro feliz

Quero, hoje, beber a bica cheia com o cineasta Francis Coppola. Tem 80 anos e anda a montar a produção de um filme, “Megalopolis”, que vai mostrar a raça humana em rumo a um futuro mais feliz.

Delírio de um velho? Também já vou para velho e estou 100% com ele! As visões catastrofistas dos progressistas regressivos negam a realidade. Coppola tem razão: o mundo é hoje muito melhor do que há 80 anos. Há menos miséria e fome, menos mortos em guerra, mais igualdade de mulheres e homens, menos mortalidade infantil. “Megalopolis” vai celebrar a inteligência humana. Confiem nos velhos: já viram e experimentaram muitas vezes o futuro.

Duas mulheres

Pode alguém tomar a bica curta no espaço? Temos de perguntar a Jessica Meir e Christina Koch, astronautas americanas que saíram da nave espacial em que viajavam e mergulharam no vazio para substituir baterias de 100 quilos que pifaram, digamos assim, dias antes. Pela primeira vez, duas mulheres, sem nenhum astronauta masculino a fazer par, flutuaram no cosmos durante sete horas. Do espaço, a 420 km do Brexit, da Catalunha, do novo governo de António Costa, viram a Terra rodar a cada 90 minutos, o Sol pôr-se e nascer, olhos postos no infinito.

Duas mulheres caminharam no espaço e fizeram, bem, o trabalho que tinham de fazer.

Um dedo no olho

Lá vai Jerónimo de Sousa, formoso e não seguro: acerta em tudo mesmo se se engana.  Meteu um dedo no olho do grande capital, culpando-o de esganar o PCP. Ora, o drama de Portugal é não beber a bica cheia com o capitalismo.

Chama-se unicórnio às empresas tecnológicas que valem mil milhões de dólares, essenciais para a riqueza de um país. Na América estão 49% dos unicórnios. Na China, 24%, A Inglaterra e a Índia têm 5%. A Europa está no fim da bicha e Portugal tem três unicórnios. Eis o que nos falta: a Europa tem de ser um pólo do capitalismo, eixo para criar e distribuir riqueza. Isso é que é espetar o dedo no olho do populismo.

O Escrever é Triste ligou-se ao grande capital

Lembrei-me dos meus amigos, companheiros, camaradas do Escrever é Triste. Saudades reforçadas por saber que, afinal, são todos empreendedores e ligados ao grande capital. Não admira que, tentando reencontrá-los, tenha chocado com os mais clamorosos anúncios, sinais exteriores do alto bling-bling de todos eles e da sumptuária e inconsumpta riqueza em que vivem.

Comecemos pelo Norton. O Pedro, está claro. É Norton, sim, mas esqueçam lá o antivirus. O meu amigo Norton, se é unapproachable, é por outras e velozes razões, reiteradas há mais de um século em maravilhosos anúncios vintage.

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E, diga-se, gerações  mais recentes tendem a desmentir (ou talvez não) a inacessibilidade do Norton.

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E lembro que, vintage por vintage, as nossas Vasconcellos, a Eugénia e a Rita, são as donas da primeira marca portuguesa, como testemunha a mais vibrante imprensa francesa.

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Tanto que a Eugénia é, francês à parte, também sonhada em novelas na língua cervantina.

Eugenia

 

Já o Henrique, o Monteiro – ou Montero, como lhe chamam na esmagadora maioria do estrangeiro – é o todo o terreno em que todos querem pôr a mão.montero

Pois muito bem, mas eu próprio tenho de confessar que a infindável fonte dos meus inconfessáveis proventos vem de negócios ínvios e fumos desavindos. A publicidade é tão megalomana que até me envergonha um bocadinho. Paciência, o que interessa é que a conta bancária é uma irrespirável onda de fumo – mas onde há fumo há fogo.

Fonsecas

Ajudem-me a revelar os terríveis negócios em que se camuflam os outros!