Bica Curta servida no CM, na 3.ª feira, dia 3 de Dezembro
Já tomei aqui a bica com ela, apesar de Zineb el Rhazoui não a poder tomar livre e descontraída como nós. Jornalista do Charlie Hebdo, Zineb escapou ao abominável e sangrento atentado em quem assassinaram 12 dos seus camaradas jornalistas. Zineb, então em Casablanca, sobreviveu.
Desde esse dia, mais combate sem tréguas o integrismo islâmico. A sua filosofia é límpida e cristalina: só há uma lei, a lei da República, e essa lei aplica-se também ao Islão. Ameaçada de morte e a viver sob rigorosa protecção policial, recebeu agora o prémio Simone Veil. Escreveu um livro, “Destruir o Fascismo Islâmico”. Prometo que o vou publicar.
Bica Curta tirada no CM, 4.ª feira, dia 24 de Julho
Zineb El Rhazoui é jornalista francesa de origem marroquina. Em 2015, disse: o Islão deve submeter-se à razão, ao humor e às leis da república! Os fundamentalistas islâmicos decretaram logo a sua morte. Os lobos solitários do Islão devem procurá-la e matá-la: a tiro, à bomba, degolando-a, à pedrada ou incendiando-lhe a casa. Nas redes sociais, “mulata suja volta para o teu país” é o insulto que ouve dos mesmos islâmicos que alegam ser vítimas de racismo em França.
Zineb toma a bica curta sob protecção policial, sem liberdade: uma vida estilhaçada. Eis a foz onde desagua o rio tribal, identitário e de excepção religiosa.
Bica Curta servida no CM, 3.ª feira, dia 18 de Junho
A iraniana Negzzia, de 29 anos, descobriu a liberdade de fotografar nua. Gostou. Mas essa é uma liberdade que o Irão pune com chicotadas em público. A iraniana Negzzia descobriu a liberdade do amor, mas a mãe deixou de lhe dirigir a palavra ao saber que ela já não era virgem. Negzzia teve de fugir. Ouvira o “Ne Me Quitte Pas, e escolheu Paris. Preferiu dormir na rua, fome e nem a bica curta, a ceder a chantagens sexuais. Às vezes, o lado do bem triunfa e Negzzia é agora modelo, com residência em França.
Negzzia, no seu dedo mindinho, escreveu: Deus. O dedo mindinho do poder islâmico, cego de raiva, não vê, não ouve, nem lê.
Não tomarei a bica com Nusrat Jahan Rafi. Ela entrou, 19 anos, no gabinete do reitor da madrassa, a sua escola islâmica. A jovem não adivinhou a tragédia. O reitor atacou-a sexualmente. Nusrat fugiu e queixou-se à polícia. O reitor foi preso, mas a polícia vazou tudo nas redes sociais pondo-a em perigo. Voltou à madrassa e os colegas ulularam para que desistisse da queixa. Recusou. Regaram-na com querosene, acenderam o fósforo fatal e Nusrat ardeu e morreu.
Foi em Abril, no Bangladesh. Com o inaceitável silêncio das mais sonoras plataformas feministas e da esquerda regressiva: o abuso das mulheres por islâmicos é o seu nó cego.
Esta é a minha terceira semana a servir bicas curtas. De 3ª a 5ª, viajei da pretensa censura a Álvaro de Campos à cidade mártir de Mossoul. Com paragem noutro secreto lugar mártir, esse silêncio doméstico onde há atentados cobardes a mulheres. Ah, sempre de chapéu posto.
Bica Curta 3ª feira, 22/1/2019
A pior das censuras O cadáver futurista de Álvaro de Campos, que por acaso está dentro do cadáver do prestidigitador Fernando Pessoa, deve estar a revirar-se eufórico e a gritar odes no cemitério. Já morto armou um escândalo: há um manual para meninos e meninas que leva truncado um poema triunfal dele.
Uma multidão de Vestais clama censura. Luxos de quem confunde censura com falta de jeito. Portugal não tem censura, haja Deus. Melhores ou piores, deve ter, sim, critérios pedagógicos. Ameaça de censura é ninguém ler e comprar livros. Ameaça de censura é um editor já não conseguir publicar poesia a não ser subsidiada. Não ler, eis a pior das censuras.
Iraqis gather at a cultural café named “Book Forum” in the former embattled city of Mosul on January 6, 2018 six months after Iraqi forces retook the northern city from Islamic State (IS) jihadists. / AFP PHOTO / Ahmad MUWAFAQ (Photo credit should read AHMAD MUWAFAQ/AFP/Getty Images)
Bica Curta 3ª feira, 23/1/2019
O Daesh que nos mói Deslarguem-me, deixem-me ir tomar a bica a Mossoul, cidade mártir do Iraque. Os terroristas puseram-na em cacos, queimaram todos os livros. Na cidade libertada, dois loucos criaram uma livraria. Vencido o Daesh, dir-se-ia que havia outras prioridades. Mas há alguma coisa mais importante do que ler e sonhar? Os dois sonhadores venderam tudo, até as jóias das mulheres, e a livraria nasceu. À meia-noite, ainda aqui se lê, recita, toca, há chá e café. Sentam-se muçulmanos e cristãos, homens e mulheres. Que lição: em média um português compra 1,2 livros por ano contra os 9 que compra um espanhol. Temos um Daesh a moer-nos por dentro.
Bica Curta 3ª feira, 24/1/2019
Não é de homem Hoje é bica escaldada, em honra de meu pai, que tocava bandolim, só tinha a 4ª classe e tanto me ensinou. Ensinou-me que não se bate a quem dizemos amar. Usar a superioridade física para bater a uma mulher é cobardia. Uns merdas, dizia-me ele. E morrem mais de 20 mulheres por ano.
Ouço muita treta e rainha da cocada preta, alto paleio sociológico à conta da violência doméstica, o flagelo e coisa e tal, mas a lição do meu pai brilha como sol no céu e não há cá eclipses: o homem que bate é cobarde. Ou covarde, que a besteira não é ortográfica, a besteira é de quem não mete na cachimónia matumba que bater numa mulher não é de homem.