Esta é a minha terceira semana a servir bicas curtas. De 3ª a 5ª, viajei da pretensa censura a Álvaro de Campos à cidade mártir de Mossoul. Com paragem noutro secreto lugar mártir, esse silêncio doméstico onde há atentados cobardes a mulheres. Ah, sempre de chapéu posto.
Bica Curta
3ª feira, 22/1/2019
A pior das censuras
O cadáver futurista de Álvaro de Campos, que por acaso está dentro do cadáver do prestidigitador Fernando Pessoa, deve estar a revirar-se eufórico e a gritar odes no cemitério. Já morto armou um escândalo: há um manual para meninos e meninas que leva truncado um poema triunfal dele.
Uma multidão de Vestais clama censura. Luxos de quem confunde censura com falta de jeito. Portugal não tem censura, haja Deus. Melhores ou piores, deve ter, sim, critérios pedagógicos. Ameaça de censura é ninguém ler e comprar livros. Ameaça de censura é um editor já não conseguir publicar poesia a não ser subsidiada. Não ler, eis a pior das censuras.

Bica Curta
3ª feira, 23/1/2019
O Daesh que nos mói
Deslarguem-me, deixem-me ir tomar a bica a Mossoul, cidade mártir do Iraque. Os terroristas puseram-na em cacos, queimaram todos os livros. Na cidade libertada, dois loucos criaram uma livraria. Vencido o Daesh, dir-se-ia que havia outras prioridades. Mas há alguma coisa mais importante do que ler e sonhar? Os dois sonhadores venderam tudo, até as jóias das mulheres, e a livraria nasceu. À meia-noite, ainda aqui se lê, recita, toca, há chá e café. Sentam-se muçulmanos e cristãos, homens e mulheres. Que lição: em média um português compra 1,2 livros por ano contra os 9 que compra um espanhol. Temos um Daesh a moer-nos por dentro.
Bica Curta
3ª feira, 24/1/2019
Não é de homem
Hoje é bica escaldada, em honra de meu pai, que tocava bandolim, só tinha a 4ª classe e tanto me ensinou. Ensinou-me que não se bate a quem dizemos amar. Usar a superioridade física para bater a uma mulher é cobardia. Uns merdas, dizia-me ele. E morrem mais de 20 mulheres por ano.
Ouço muita treta e rainha da cocada preta, alto paleio sociológico à conta da violência doméstica, o flagelo e coisa e tal, mas a lição do meu pai brilha como sol no céu e não há cá eclipses: o homem que bate é cobarde. Ou covarde, que a besteira não é ortográfica, a besteira é de quem não mete na cachimónia matumba que bater numa mulher não é de homem.
Publicado no CM, Correio da Manhã
O senhor seu pai tinha e continua tendo razão, é mesmo de cobarde.
Quanto às vestais, é muito escarcéu para nada. E concordo, não é censura. Quem em tal falou não viveu nesse tempo certamente. Ou anda a dormir na forma.
Se lêssemos mais, vários problemas que nos atormentam morriam de inanição ou nem surgiam. Pela nossa saúde, urge ler.
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