
Talvez a vida não seja mais do que sonho, talvez a nossa pequena vida esteja cercada, apenas e só, por um redondo sono.
Prefiro pensar que, mais do que a matéria com que se constroem os sonhos, é o tempo a substância de que todos somos feitos. Um tempo irreversível e inexorável.
Podemos sonhar, pode o sono obscuro invadir-nos, o que não podemos é negar o tempo. Negá-lo é negarmo-nos.
Por vezes é lícito trocar este stuff de Shakespeare:
We are such stuff
As dreams are made on; and our little life
Is rounded with a sleep.
(Nós somos essas coisas
de que são feitos os sonhos; e a nossa pequena vida
está rodeado de sono.)
Shakespeare, The Tempest
por esta sustancia de Borges:
El tiempo es la sustancia de que estoy hecho.
El tiempo es un río que me arrebata, pero yo soy el río;
es un tigre que me destroza, pero yo soy el tigre,
es un fuego que me consume, pero yo soy el fuego
(O tempo é a substância de que sou feito.
O tempo é um rio que me arrebata, porém sou eu o rio;
é um tigre que me destroça, porém sou eu o tigre;
é um fogo que me consome, porém sou eu o fogo.)
Borges, Otras Inquisiciones
