Todos os dias são Dia do Livro

Esta foi a Bica Curta que servi no CM, no dia 23 de Abril. Era Dia Mundial do Livro. Mas não são todos os dias, dias do livro? 

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Sophia Loren, a ler, claro.

Dia Mundial do Livro

Nasci em Vale de Madeira, aldeia ao lado de Pinhel. Menino, vivi no Sambilas, musseque de Luanda. O livro salvou-me a vida. Por ser conhecimento, o livro dá a quem o lê uma vida mais rica.  É científico: a neurobiologia atesta o efeito da leitura no cérebro. Ler romances, ler poesia dá conhecimento. E enche-nos de prazer: o livro oferece aventura, empatia humana, expande o imaginário, erotiza a vida. Ganhamos experiência, visitamos mundos que existem e mundos que ainda hão de vir. O livro faz do leitor um deus e dá-lhe delícias que rivalizam com prazeres de mesa e cama juntas. Tenha piedade do seu espírito: compre e leia livros.

Um tuíte decente

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Bica Curta servida no CM, 5ª feira, dia 18 de Abril

Li no jornal da Sociedade Pediátrica Americana. E, por se juntarem ali os Messi e Ronaldos da pediatria, acredito e faço campanha: leia livros aos seus filhos. Comece a ler-lhes mal eles nasçam: um livrinho ilustrado por noite. O estudo da Sociedade Pediátrica vem quente como uma bica curta: aos cinco anos, uma criança a quem os pais leram um livro por dia, sabe um milhão e 400 mil palavras mais do que os catraios murchos que os pais arrumaram a xixi e cama.

Não se balde, amar os filhos é ler-lhes, dar-lhes palavras para dialogar com o mundo. E, já agora, escreverem um tuíte decente e não a vergonha dos tuítes de Donald Trump.

As boas leituras

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“Acho que deve­mos ler o tipo de livros que nos abram feri­das, que nos esfa­queiem.” Este con­ceito tão vis­ce­ral da lei­tura defendia-o Franz Kafka. Antes ou depois, com pro­pó­si­tos cer­ta­mente tera­pêu­ti­cos, Henry Mil­ler ofereceu-se como exem­plo: “As minhas boas lei­tu­ras bem se pode dizer que tive­ram lugar na casa de banho.”

Ainda me lem­bro de ouvir o, tan­tas vezes admi­rá­vel, João César Mon­teiro, dizer sono­ra­mente: “Eu quero que o público se foda!” Mais pene­trante embora, não era mais ori­gi­nal do que a ori­gi­na­li­dade de Gabriel Gar­cia Marx (per­dão, Mar­quez) ao jurar que, no fim de con­tas, todos os livros são escri­tos só para os amigos.

Con­tra­po­nho a esta teo­ria dos happy few a teo­ria das unhappy few: Agus­tina Bessa-Luís disse-me um dia, ali para os lados da Bue­nos Aires, que mui­tos escri­to­res machos se vira­vam para ela e a lou­va­vam, rema­tando com acinte: “A minha mulher é que gosta muito e lê os seus livros todos!” O tempo que eles não tinham para a ler, não o tinha dou­tra maneira o sublime e exe­crá­vel aus­tríaco Karl Kraus, cujo motto de lei­tura tal­vez fosse uma apro­xi­ma­ção à teo­ria da rela­ti­vi­dade: “Como é que vou des­co­brir o tempo para não ler tan­tos livros?”

Mais non­cha­lant parece ser V. S. Nai­pul: “Sou o género de escri­tor que as pes­soas pen­sam que as outras pes­soas andam a ler.” Mas se a sin­ce­ri­dade, a genuína sin­ce­ri­dade, ainda é uma vir­tude, con­fesso que Oscar Wilde é o meu favo­rito: “Nunca viajo sem o meu diá­rio. Uma pes­soa tem de ter alguma coisa sen­sa­ci­o­nal para ler no comboio.”

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