“Acho que devemos ler o tipo de livros que nos abram feridas, que nos esfaqueiem.” Este conceito tão visceral da leitura defendia-o Franz Kafka. Antes ou depois, com propósitos certamente terapêuticos, Henry Miller ofereceu-se como exemplo: “As minhas boas leituras bem se pode dizer que tiveram lugar na casa de banho.”
Ainda me lembro de ouvir o, tantas vezes admirável, João César Monteiro, dizer sonoramente: “Eu quero que o público se foda!” Mais penetrante embora, não era mais original do que a originalidade de Gabriel Garcia Marx (perdão, Marquez) ao jurar que, no fim de contas, todos os livros são escritos só para os amigos.
Contraponho a esta teoria dos happy few a teoria das unhappy few: Agustina Bessa-Luís disse-me um dia, ali para os lados da Buenos Aires, que muitos escritores machos se viravam para ela e a louvavam, rematando com acinte: “A minha mulher é que gosta muito e lê os seus livros todos!” O tempo que eles não tinham para a ler, não o tinha doutra maneira o sublime e execrável austríaco Karl Kraus, cujo motto de leitura talvez fosse uma aproximação à teoria da relatividade: “Como é que vou descobrir o tempo para não ler tantos livros?”
Mais nonchalant parece ser V. S. Naipul: “Sou o género de escritor que as pessoas pensam que as outras pessoas andam a ler.” Mas se a sinceridade, a genuína sinceridade, ainda é uma virtude, confesso que Oscar Wilde é o meu favorito: “Nunca viajo sem o meu diário. Uma pessoa tem de ter alguma coisa sensacional para ler no comboio.”
Do Oscar Wilde é só escolher os aforismos. Qual o mais brilhante e divertido a propósito de tudo…
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Não falha um, tens toda a razão, Gonçalo.
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conceitos bastante diferentes mas com um factor comum, qualquer deles incentiva à leitura – pelo menos em cada um dos escritores.
A foto de Marylin está demais. Incluindo o livro, claro.
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Devia ser giro ler em voz alta com a Marilyn…
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Do Miller ainda conservo o opúsculo “Ler na Retrete”, uma pérola, não para meter no sítio do Bruno Nogueira.
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Bom livro do Miller, caro Albertino…
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