O cheque livro

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É uma proposta para que o Estado devolva anualmente, a cada família portuguesa, 30 euros dos seus impostos e que, de forma livre, cada família possa comprar livros e só livros, nas livrarias portugueses. Isto se acreditamos que o livro é o maior factor de identidade cultural de um povo.

Bica Curta servida no CM, 4.ª feira, dia 11 de Dezembro

O livro perde leitores.

São menos de 10% os livros editados em Portugal que vendem mil exemplares num ano: desastre! E editam-se doze mil títulos por ano. O bolso das nossas famílias é um bolso esmifrado. Pobre, comparado à Europa. Mas se os portugueses não lerem livros, a capacidade de entenderem problemas, de se exprimirem e pensarem entra em déficit e reduz-nos à miséria.

O livro tem de ser um desígnio nacional. É urgente criar já um cheque-livro – 30 euros! – para cada família portuguesa.

É uma bica cheia de mais de cem milhões de euros, mas é o cimento que une a família ao livro, evitando a falência de livrarias e editores.

Os editores são um zero à esquerda

lolita

Zero. À esquerda. O que sabem editores, perguntaria Camilo se andasse para aqui a escrever na blogosfera. Basta fazer uma passagem aleatória pela ava­li­a­ções dos edi­to­res no momento da publi­ca­ção de ori­gi­nais.

“Lolita”, de Vladimir Nabokov, por exemplo. Reparem, foi recu­sado por vários edi­to­res que lhe deram sonoramente com os pés. Como, nou­tro tempo e por outros edi­to­res, foi recu­sado o “Pride and Pre­ju­dice” de Jane Aus­ten. Pior (ou melhor?): houve 22 edi­to­res que recu­sa­ram o “Dubli­ners” de James Joyce. Mesmo o con­sen­sual “War of the Worlds”, de H. G. Wel­les, levou uma redonda nega de um redondo edi­tor. E a editora Har­court Brace (de San Diego, Nova Ior­que e Orlando), desdenhou o “The Cat­cher in the Rye”, de J.D.Salinger, que have­ria de fazer a feli­ci­dade de outra editora, a Lit­tle, Brown, de Bos­ton e Nova Ior­que.

Digo isto e sei que exagero. É fácil ati­rar pedras aos edi­to­res, que cos­tu­mam ser pre­sos por ter cão e por não ter cão. Mas lembrem-se do vexame por que pas­sou uma pres­ti­gi­ada revista lite­rá­ria (e conto como me con­ta­ram) a que um cínico enviou um poema de e. e. cum­mings, cui­da­do­sa­mente rees­crito de trás para a frente: o comité da revista deu-lhe o pri­meiro pré­mio do seu con­curso para a elei­ção de novos talen­tos. Mal por mal e nunca fiando, antes o mau feito de uma escar­rado não.