Imaginemos que alguém se lembrava de dar música à pintura de Hopper. E imaginemos que alguém se lembrava de criar uma banda sonora para Edward Hopper armando a estranha combinação de Frank Sinatra e Nelson Gonçalves. Que a mim me parece até bem lógica. Olhem lá para cima para Hopper e ouçam aqui em baixo Sinatra.
Dir-me-ão – já me disseram – Sinatra sim, mas porquê Nelson Gonçalves?
Só sei que esse brasileiro, filhos de pobres pais portugueses, homem de cinquenta modestíssimos ofícios e de cem rotundos falhanços, tem uma voz antiga, trágica, operática. Voz hiperbólica onde a de Sinatra é de uma angustiada harmonia.
Não quero saber, e quando o nosso santo corpo e os nossos pacientes ouvidos não querem saber é porque têm razão! E juraria que ambos, Sinatra e Gonçalves fazem parte “dessa estranha confraria do vermute, do conhaque e do traçado”. É natural que tenham bebido juntos no solitário bar de Hopper.