O ar que comeremos

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Bica Curta servida no CM , 4.ª feira, dia 14 de Agosto

A boca que qualquer pai mandava ao filho recalcitrante “Ah, não estudas? E quando fores grande alimentas-te do ar, não é?” perdeu o sentido. A Solar Foods, usando tecnologia da NASA, transformou o simples ar que respiramos em comida: um pó chamado solein. Não sabe a bica curta, sabe a farinha de trigo e tem células proteicas de laboratório. O solein é CO2, água e electricidade renovável, é amicíssimo do ambiente, dispensa a agricultura. Pode produzir-se às toneladas e alimentar milhões de seres humanos. A criação é de engenheiros finlandeses e chega às lojas em 2021.

Aviso a filhos recalcitrantes: estes engenheiros estudaram!

Ícaro e Medusa

Bica Curta servida no CM, 3.ª, dia 7 de Agosto

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O voo de Icar, Jacob Peter Gowy

Vi um homem voar como Ícaro e não cair ao mar. Sobrevoou o Canal da Mancha, de pé, em cima de pouco mais do que um tapete. Quando eu era um jovem hippie dançava o Magic Carpet Ride, dos Steppenwolf, sem sonhar que esse tapete mágico seria, hoje, uma realidade. E, bica curta na mão, vi também, um robot flexível e com pele. Não de metal, mas com pele de medusa. Minúsculo, 4 mm, desliza, salta e nada, para levar remédios ao tracto gastro-intestinal ou às coronárias.

Ícaro e Medusa. A ciência, a abençoada ciência capitalista, reencontra o gosto do maravilhoso da mitologia grega. O passado reinventa-se para nos oferecer o futuro.

 

 

Mais África

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Bica Curta servida no CM, 5.ª feira, dia 13 de Junho

Chama-se Mara e é o primeiro telemóvel criado em África. Desenvolvido no Ruanda, vai ser produzido ali e na África do Sul. Écrã Gorilla Glass, som Dolby, processador de 8 núcleos, custa 140€. Eis o que África precisa. De iniciativa, indústria, cooperação entre nações. O empreendedor é Ashish Thakkar, indiano nascido em Londres, infância e adolescência vividas no Ruanda, como eu em Luanda. Primeiro o tirano Idi Amin, depois o genocídio expulsaram-no, mas Ashish voltou. África é a sua bica curta.

Ouço muito paleio de ressentida negritude e autenticidade identitária. Ora, a África precisa de menos queixa e muito mais empresas.

Uma mão em silicone

Bica servida no CM, 4.ª feira, dia 5 de Junho

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Nos tempos sombrios do velho Salazar, tínhamos de ir a França ver os filmes que ele nos proibia de ver. Lembram-se? Agora, pelo menos para já, teremos de ir a França às massagens. Ou a Singapura. Nos dois países criaram um robot que faz massagens perfeitas. Uma câmara do robot desenha em 3D a nossa bela compleição física. Depois, um braço com uma mão em silicone toca, pressiona, desliza pelo nosso corpo com uma sensibilidade que mão humana jamais alcançará, sendo os nossos dados físicos actualizados ao milésimo de segundo.

Há inconvenientes: o robot não fala, não massaja com óleo, não vem, a seguir, beber connosco a bica curta.

Uma alegria africana

Bica Curta servida no CM; 5.ª feira, dia 30 de Maio

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Hoje, a minha bica é mistura perfeita de arábica do Quénia e robusta de Angola. Devo a África uma infância e adolescência de alegria e emoção. Faço de cada passo de África a caminho do desenvolvimento uma vitória minha. E vejo na mundialização uma das bênçãos que, em 30 anos, baixou em 60% a mortalidade infantil: morriam 180 em cada mil crianças, hoje só 75.

E não é só África. Com a melhoria de vida dos países emergentes, a taxa de pobreza no mundo, de 36% em 1990, passou a 8,6% em 2018 e a taxa de sub-alimentação baixou 50%. Grandes passos: deram-nos as pernas da tecnologia, comércio, negócios. Belas pernas humanas.