Morreu hoje o homem que raptava mulheres. Raptou sete num dos mais musculados musicais do cinema clássico americano.
Stanley Donen, coreógrafo e realizador, é um nome que a história do cinema tende a varrer para debaixo do genial tapete chamado Gene Kelly. Juntos conceberam e realizaram “On the Town”, “Singin’ in the Rain” e “It’s Always Fair Weather”, eufórica e exaltante trilogia em que a vozes e pés se exprime a inteligência e a emoção humanas. São filmes inimagináveis sem a presença atlética, saudável, sorridente, genial, de Gene Kelly. Mas a realização de Donen existe, está lá.
Sozinho, Donen realizou as “Sete Noivas para Sete Irmãos” de que estava a falar quando comecei a escrever, antes de me atrapalhar e meter os pés pelas mãos. Sozinho, já sem Kelly, Stanley Donen repetiu a genialidade dos números musicais, a mesma euforia, um contentamento que irradia dos corpos, a mesma forma de pés, saltos, quedas, objectos, braços contarem melhor e mais literalmente uma história do que se fosse contada por palavras. Vê-se “Seven Brides for Seven Brothers” e vê-se que Donen está lá, “he shows up!”
Quando lhe deram um Oscar honorário, Donen subiu ao palco. Mal discursou e fez, ainda assim, um dos melhores “speeches” que em cima de um palco se pode fazer. Por uma razão simples: este homem sabia o que era a felicidade. Raptava mulheres e sabia filmar a felicidade.
Tenho razão, não tenho? As saudades que vamos ter de Stanley Donen.