A linha de horizonte

Steven-Spielberg
O jovem Spielberga

Aos 15 anos Steven Spielberg queria ser realizador. Precisava de conselhos. Escolheu John Ford, o melhor realizador de sempre (não segundo mim que mim não conta, mas segundo Welles, Bogdanovich, Scorsese), e tentou uma entrevista. A secretária recebeu-o, dizendo-lhe que o  senhor Ford estava a almoçar e que os almoços dele eram homéricos. Spielberg esperou paciente. De repente, um furacão entrou por ali dentro, a cara coberta do baton de alguns beijos. Sem tempo para que a secretária ou o imberbe e implume candidato tivessem oportunidade para lhe dizer o que fosse.

A secretária foi lá dentro. Limpou os beijos da cara de Ford e explicou-lhe que estava ali um jovem que queria ser realizador. “Dou-lhe cinco minutos. Ele que entre”, rosnou John Ford.

Spielberg entrou. Ford mal olhou para ele e apontou para um quadro na parede: “O que vês ali?” Spielberg lançou-se numa explicação profusa. Ford atalhou: “Isso não interessa para nada. Nesta foto o que interessa é a linha de horizonte. Onde é que está?” “Em cima”, respondeu Spielberg. “E nesta?” insistiu Ford. “Em baixo” confirmou Steven. “Isso mesmo. No quadro, o que interessa é a linha de horizonte. Em cima ou em baixo. Nunca ao meio. Nunca te esqueças. Agora podes ir embora e ser realizador”.

O episódio, relatado pelo próprio, está no belíssimo documentário que o realizador Peter Bogdanovich fez em 1971 e a que, em 2006, acrescentou os testemunhos de Spielberg e Scorsese entre outros.

Se puderem deliciem-se com esse tributo amoroso. Gostem, por favor, pelo menos tanto como eu. Entretanto, Spielberg já contou, noutro lado, esta variante dessa versão.