Até já, Luís Osório

O meu autor Luís Osório trocou-me as voltas e, depois de publicar comigo Mãe Promete-me Que Lês e 30 Portugueses, 1 País, vai publicar um novo livro numa editora poderosa. À tão simpática despedida dele, no facebook, eu respondi assim, comovido e désolé.

mae país

Luís Osório, meu bom Luís, aceitaste publicar na Guerra e Paz quando esse centauro (por ser metade eu, metade casa editora, e não sou capaz de te dizer qual é a metade cavalo e a metade humana), atravessava um momento de dúvida e de aflição financeira. Que coragem tiveste! Fiquei a admirar-te.
Deixas-me num momento em que a Guerra e Paz reencontrou um caminho positivo, fechando o melhor de dez anos de actividade, escolhendo caminhos de diversidade, que nem sempre passam pela livraria (que vai deixando de ser, cada vez mais, em todo o mundo, a porta dos livros). A Guerra e Paz não é, como os grupos de grande concentração, uma sopa dos ricos, mas é, neste momento, uma sopinha melhorada e honesta e tenho pena de que não proves deste tempero – e tantas vezes é mais saborosa essa modesta sopa do que duas estrelas Michelin, não é?
Deixas-me, logo agora que a Guerra e Paz foi escolhida por parceiros independentes, pelos Prémios Literário do Lions de Portugal e dos Novos Talentos da UCCLA, para ser a editora das Obras vencedoras no romance, tu deixas-me… Deixa que eu me lamente em francês: Je suis désolé.
E no entanto tens razão nesta escolha e despedida: fazes bem ir comer uma sopinha dos ricos, e eu não sou o típico editor de que um autor precisa mesmo: em certos casos, mas nem sempre. Gosto tanto de escrever como os meus autores e vejo-me mais atacado por convulsões estéticas, por acessos pandémicos de paixão por Rimbaud, por Edna St. Vincent Millay, pelo verso de HH em que ele promete encantar a noite com o arbusto de sangue de uma jovem mulher, do que pelo marketing, pelo lobbying, pela influência sobre a imprensa ou sobre as cadeias livreiras (quantas há?), ainda que, ressalvo, eu tenha sempre um olho no cifrão, como o têm todos os artistas que se prezam (ó, ó!).
O meu outro olho arregala-se para o amor: aos 66 anos de idade recordo o que me ensinou um padre basco aos 16 anos: Deus é amor. E, como bem sabes, Deus é uma maravilhosa construção dos homens, do amor do Homem, desse amor que os homens não sabem onde pôr ou arrumar. E eis o que foram estes dois livros contigo: uma cena de amor. Desde o primeiro café na editora aos carnívoros almoços no Cortador Oh Lacerda (o que me vai custar lá voltar sem ti!), às sessões de lançamento, em que eu fingi de editor fiel a entreter os teus leitores devotos (tive a sensação de que tinhas mais leitoras, mas pode ter sido o meu viés, chamemos-lhe assim, que só tinha olhos para elas 🙂  ), naquela prodigiosa viagem de Leiria a Lisboa, cerca 4 horas, com o divino Manolo Bello ao volante, a 50 km à hora nas estradas secundárias, madrugada dentro de fazer inveja às wee hours do Frank Sinatra, a contar-nos as anedotas mais delirantes, tudo isso foi Deus e foi amor. Eis o que nos juntou e uniu. Eis o que um pequeno detalhe agora suspende. Que os deuses abençoem o pequeno detalhe. Tu mereces. E eu mando-te um abraço, ou melhor, um valente kandando caluanda. Que tudo te corra bem, Luís.

osorio