
Quantas vidas tem Tom Zé? Vamos lá, Tom Zé já tinha vida quando a família, moradora em Irará, na Baía, ganhou um qualquer Euromilhões brasileiro. Foi logo outra vida. A terceira foi a descoberta do violão e da música. Nos anos 60, saído da escola de música, impressentido intelectual escondido num físico débil, Tom Zé foi uma figura de proa do tropicalismo, ombro com ombro com Caetano, Gil e essa tal Gal ou também Betânia.
Fosse por ser quem é, flor que de vez em quando não se cheire, apagaram-no da história e não sei em quantas vidas já vamos. Chamaram-lhe o Trotsky do tropicalismo, mas como ninguém lhe deu com a picareta, David Byrne ressuscitou-o, muitos anos depois, já Tom Zé ia nuns cadavéricos 50 anos. Levou-o, ou à música dele para Nova Iorque. E deu outra vida a Tom Zé: em 1998, o New York Times elegeu o álbum dele desse ano como um dos dez melhores do ano.
Mas eu só queria que ouvissem a delícia que é Se o Caso é Chorar prodigiosa canção sentimental e totalmente assentimental.
E queria ainda mais que ouvissem esse maravilhoso exercício de desconstrução, feito com esses duros materiais que são a inteligência e a ironia. Ouçam e considerem que é já prendinha de Natal.