Samuel Fuller

Sei que tenho mais umas fotos com Samuel Fuller, de quem fui também “guia” no ciclo que a Cinemateca lhe dedicou e de cujo catálogo e logística o João Bénard me encarregou. Não sei é onde é que as meti. O ciclo foi uma revelação, com a descoberta de parte significativa, se não a maioria dos seus filmes, para a quase totalidade da cinefilia portuguesa e da douta crítica (moi-même, armado aos cucos, também incluído).

Nessa altura defendi junto do João Bénard que, em boa verdade, os catálogos dedicados a cineastas deviam ser feitos depois do ciclo e não antes, vistos e revistos os filmes e as obras completas. Mas isso são minudências: o que conta é que o Fuller era um tipo felicíssimo e americaníssimo, dessa América de outros tempos pela qual eu me batia aos pulos. Veio cá filmar, com produção executiva do António da Cunha Teles, um filme para esquecer, mas com uma obviamente nuíssima Godiva, a cavalo, filmada numa noite fria, ali entre a Feira da Ladra e São Vicente de Fora. Devo-lhe o mais belo par de lágrimas que já vi no cinema. O par de lágrimas rola pela cara barbuda de um soldado, em Merril’s Marauders, tombado pela exaustão de marchas foçadas, que acorda com um miúdo birmanês sorridente a tentar alimentá-lo, metendo-lhe bagos de arroz pela boca abaixo. A singela humanidade desse gesto, a silenciosa compreensão vital daqueles dois seres humanos é das coisas mais belas e comoventes que já vi. Um dia, em homenagem a este Fuller tão amável e tão americano, tenho de voltar a rever essa cena.

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