Esta Bica Curta foi servida no CM no dia 9 de Abril, ainda eu era novo
Os intocáveis
Eram sete adolescentes e faziam roda no meio da minha rua. Estavam a dois metros de distância uns dos outros. Traziam no corpo a exuberância, riso e doce desprendimento juvenis. Mas não se tocavam. E eu pergunto: voltaremos a tocar-nos? Voltará a confiança de um forte aperto de mão? E a gárrula entrega de um abraço, corpo a corpo? O beijo, santos Deus, como viveremos sem beijos na face, sem lábios contra lábios, sem a aventurosa incursão da língua?
Adivinham-se relações humanas higienizadas, triunfo de um puritanismo “não me toques”, que desconfia da pele, do toque humano. Seria terrível vivermos numa humanidade de intocáveis.
É a consequência que mais temo no meio desta pandemia, a separação uns dos outros. Lidar-mos com os nossos como com estranhos.
E os meus pais? Quando a Portugal voltarmos, devem afogar os netos em beijos e mimo?
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Assim o espero. Voltaremos à vida, plena, claro.
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