Em vez de chorar, façamos arte

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Foram estas as Bicas Curtas servidas no CM, na 3.ª, 4.ª, 5.ª, dias 18, 19 e 20 de Janeiro

Gritos heróicos

Um ministro da cultura brasileiro foi o eco tropical do discurso do nazi Goebbels e quis ressuscitar a ideia de arte heróica nacional ao serviço da ideologia, no que Hitler e o comunista Estaline comungavam. Os belos espíritos da extrema-direita e da extrema-esquerda, ou esquerda radical se os pouparmos à azia terminológica, unem-se nessa ideia e também no uso intimidatório da linguagem.

Entre nós, o substantivo feminino “vergonha” é já um gritado cordão umbilical a ligar os extremos. Usou-o com som e fúria o Chega no Parlamento. Com “mentira” e “vergonha” clamorosas, Joacine congelou o Congresso do Livre. Coincidências?

O tutu de Trump

Não me admira que um destes dias se comece a vender uma caixinha de música em que Donald Trump apareça a dançar com tutu de bailarina e em pontas. Flexões e voltas estão-lhe na massa do sangue. Agora, Trump assinou a “Fase Um” do acordo comercial com a China, num pas de deux com o presidente Xi Jiping, que o mundo agradece.

Mas a maior surpresa foi o jeté, esse salto de pernas bem esticadas, que é a notícia da subida de imigrantes a que a sua administração deu visto e legalizou, na fronteira do México, como trabalhadores convidados. Dos 200 mil autorizados no último ano de Obama, Trump passou, em 2019, a 400 mil. Paso doble.

Corredor humanitário

Agora que mil olhos faíscam sobre Isabel dos Santos, futura ex-mais rica mulher de África, mais razões há para falar de outra África.

No caos de Kinshasa, na República Democrata do Congo, inspirados pelo pioneiro Freddy Tsimba, escultores criam uma arte de rua grandiosa, interventiva, tão chocante como redentora. Usam materiais apanhados do chão: pedaços de computadores, colheres e garfos, restos de espingardas e de balas. Fazem esculturas que irrompem pela cidade e desafiam.  Num continente espoliado pela cleptocracia, esses criadores juram: “Em vez de chorar, queremos fazer arte.” É mais do que arte, é um corredor humanitário.

2 thoughts on “Em vez de chorar, façamos arte”

  1. Tal como chorar, não é uma solução. É um meio para expressar o sentido e que dura bem mais que as lágrimas. Mas não é menos triste. Ao contrário.

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