Tenho andando numa azáfama do caneco. Sabe-me a vulcão em erupção. Mas não sei se é bom para a minha idade. Assim como assim, deixei esfriar as bicas de há duas semanas. Aqui estão elas.
Bica Curta servida no CM, 3.ª feira, dia 15 de Outubro
A Natureza
Por falar de natureza. O meu pai sabia coisas pelo vento, sol e nuvens, se ia chover, se era meia-noite ou meio-dia. Sou de uma geração que soube tudo pelos livros. Muitos livros que li amavam o ar alto que roça o céu, a fímbria do mar, o capim do mato. Num livro do Oeste Selvagem, “Desert Gold” de Zane Grey, literatura de terceira classe, havia um índio yaqui que se fundia com a noite, com o rumor de um rio, com os cactos do deserto, num panteísmo de aventura e risco. Falhei a vida: eu nunca quis nem quero ser nenhum livro. Eu queria ser o índio – e hoje sei que nunca o serei.
E pronto, já falei de natureza – e do meu pai.
Bica Curta servida no CM, 4.ª feira, dia 16 de Outubro
Umas estátuas
E se o debate político bebesse um jarro de detox? Ou, à ordem dos meus avós Isaura e Brigas, fizesse uma purga? Queixamo-nos da língua grossa de André Ventura. Mas mesmo a linguagem do debate entre esquerda e direita democráticas é um estrugido de populismo.
Vítor Gaspar e Mário Centeno mereciam duas estátuas pela restauração das nossas finanças. Passos Coelho e Costa mereciam outra, a de Passos dois dedos maior do que a de Costa: tiraram-nos da bancarrota. Começar por saudar o óbvio no campo democrático talvez ajudasse a estancar a avassaladora suspeita de café, táxi e facebook de que os políticos são só e apenas corruptos.
Bica Curta servida no CM, 5.ª feira, dia 17 de Outubro
Qual fogo, qual nada
Apetece ir tomar a bica à universidade de Stanford nos Estados Unidos. Cientistas e engenheiros desenvolveram uma espécie de gel, à base de fosfato de amónio, que pode ser facilmente pulverizado em vastas áreas de floresta sujeitas a alto risco de incêndio, impedindo o aparecimento de fogos. Mesmo que venham chuvadas malucas o gel resiste e não deixa que o fogo se propague. Este gel dá beijinhos a Mário Centeno: é barato e fácil de aplicar. E dá beijinhos ao ambiente: não é tóxico, feito de produtos da indústria alimentar e médica. Basta pulverizar zonas de risco e a sua acção é garantida por meses. Nunca o fogo viu nada assim.