
A propósito de taxas de juros e outras trocas monetaristas e de coisinhas da silly season, tomem lá o apogeu da procura e oferta do corpo feminino, no quadro de um tempo em que o bordel começou a rivalizar com a igreja como lugar de destino e culto. Visitem este quadro de Henri Gervex (que hoje nos cheira, se permitem que meta o nariz onde não se deve, a academismo).
“Rolla” (1878) foi pintado alguns anos depois da “Olympia” de Manet, e inspirado por um poema de Alfred de Musset. O centro do quadro é Marie, a prostituta pela qual Rolla, consumido pela paixão, pagou uma noite de amor. Dissipou assim as últimas notas, conseguidas com a venda da sua pistola, e algumas emprestadas pelos amigos aos quais jurara que, obtidos os favores de Marie (Marion), a luz do sol já não o voltaria a encontrar com vida. Cara, muito cara, Marie. Agora, a morte espera o apavorado Rolla enquanto o corpo macio de Marie se delicia com um sono tão lascivo como a satisfeita noite que os lábios entreabertos denunciam.
Gosto do luxo do leito, da invasora luz matinal, do corpete caído no sofá (diz-se que por sugestão de Degas), atravessado pela cana da inútil bengala. Para além da portada aberta, Paris, o boulevard.

Esse quadro foi analisado numa sessão na Casa-Museu Anastácio Gonçalves a propósito do Nu na pintura de Gustavo Courbet e a sua Origem do Mundo. O Museu possui um Courbet mas não é um nu, não senhor.
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Que maravilha se a Casa Museu tivesse o célebre Courbet. Ou este Gervex!
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