Agora que vi Ronaldo em Madrid, a ser entrevistado por um punhado de menininhas e menininhos – e tanto gostei de o ver, lembrei-me que há cerca de um ano ele conversou, confessional, comigo, papo que relatei como se segue. Ou melhor, ele não conversou bem comigo, que ele não me dá essa confiança. Foi aos jornalistas que Cristiano Ronaldo fez essa confissão: “Não tive um dia na minha carreira que não tivesse dor.” Cristiano Ronaldo ainda nem trinta anos tinha quando disse o que o site do ESPN do Brasil pespegou então, às 17:00, na sua página, para delírio dos seus leitores, actualizando essas dores, e eram já outras dores, às 17:15.
Eu precisei de chegar aos 65 anos para me aproximar, tangencialmente que seja, de Cristiano. Uma moinha na cervical, mesmo se me deixa dormir, logo tem, em última análise, como se diria nos meus tempos revolucionários e sem dores, lamentáveis consequências na barriga das pernas no dia seguinte. E se não for o joelho, há-de ser o dedo médio da mão esquerda que congela, como se a articulação ossificasse, sem remissão, para a eternidade. E nem falo do braço direito que já não levanta seque à altura do ombro e gera dores horrorosas quando tento usar os tradicionais saca-rolhas nos brancos rabigato do Douro que deveriam ser o bálsamo da minha velhice.
Chego aos 65 anos e sou, finalmente, um Cristiano Ronaldo: não há um só dia sem dores, uma só articulação que não proteste, coração, cabeça e estômago que não venham, camilianos, atazanar-me.
Isto era o que se me oferecia dizer aos 65 anos. E, não obstante, um ano depois, aos 66, esquecidas ou assimiladas, eis que as dores se dissipam, uma certa e distraída inefabilidade leva-me o corpo, sem dizer nada, sem aviso e, diga-se, sem maldade. Por fim, o nirvana.
Manuel,no nosso caso é da PDI…
São outras dores!
Abraço
Enviado do meu iPhone
No dia 31/07/2019, às 18:10, A Página Negra de Manuel S. Fonseca <comment-reply@wordpress.com> escreveu:
Manuel S. Fonseca posted: ” Agora que vi Ronaldo em Madrid, a ser entrevistado por um punhado de menininhas e menininhos – e tanto gostei de o ver, lembrei-me que há cerca de um ano ele conversou, confessional, comigo. Ou melhor, ele não conversou bem comigo. Foi aos jornalistas qu”
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Ah, não sei, não: é tudo muito existencial, meu kamba. Abraço
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Nas férias também pensei nesse assunto (sem Ronaldo…), porque me doeu um pé, a articulação do braço e até o coração se ressentiu. 🙂
Senti que era altura de me devia habituar a estas coisas, por que a partir de uma certa idade, passam a fazer parte do dia-a-dia.
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Dorida que seja, a vida é sempre uma festa.
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