Não, não vou voltar a Van Gogh. Mesmo se o caso dele é um excepcional desmentido do que vou dizer. E lembro: quando morreu tinha vendido um quadro.
Há um mito que, de tão tranquilizador para críticos idiotas e artistas cabotinos, me encanita um bocadinho. Reza assim: “As obras incompreendidas hoje serão descobertas amanhã”.
Com boa vontade, mas mesmo muito boa vontade, talvez aconteça num ou dois casos. Prefiro pensar que, maioritariamente, as obras incompreendidas hoje continuam a ser incompreendidas amanhã. Milhares, mesmo milhões de obras, incompreendidas hoje, serão irremediavelmente esquecidas amanhã e ainda mais depois de amanhã. Por mais euforia estética que me invada e por mais optimista que tente ser, acabo submerso por este cepticismo cartesiano a que o veneno do tempo acrescenta, ainda, este azedo tempero: “Muitas obras compreendidas hoje serão, lógica e legitimamente, incompreendidas amanhã.”
Van Gogh é o meu pintor de eleição. Pouco me interessa se cortou uma orelha, se era ou não louco, se. É um dos que me deixam a alma contente, de rastos pela magnitude do génio, mas contente até transbordar, medida cheia e rasourada.
E convenço-me que terá o Manuel razão, há muita fama que fica pelo presente, é fogo fátuo e, pouco mais que nada, não sobrevive à valoração da história.
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Bea, ele tinha, certamente, essa loucura que arde sem se ver…
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