Há pouco comecei a ouvir a cansada voz de Dolores Duran. Descobri que da voz e da vida dela se derrama a biografia da solidão.
As vassourinhas varrem os pratos e tambores da bateria, mas não varrem as lágrimas e a retórica magnífica do sofrimento. Será que nós, e falo com os homens, chegamos a compreender o que Dolores canta. Nos nossos desmedidos devaneios épicos de homens, a forma como Dolores canta as palavras que ela mesma escreveu, é uma histeria irreal, um ensanguentado folhetim. É preciso que uma mulher cante e outra mulher ouça. Dolores Duran namorou os homens. Não dormiu com todos, mas dormiu com muitos. Dormiu até, porque amou, um garçon de cabaret. Mas quando queria que lhe ouvissem as novas canções, cantava-as às amigas. Foi ao telefone que cantou “ai a solidão vai acabar comigo” a Maysa.
Maysa contou que ouviu e já não conseguiu voltar a falar. Chorou o dobro, o triplo do que os versos de Dolores pareciam pedir, sufocada, estranha, ciente da inferioridade e da superioridade de quem tem o segredo do romantismo.
Tom Jobim, Vinicius, os homens, os artistas, os que “sabem o que fazem e o que dizem” chegariam, muitas lágrimas depois, à carreira de Dolores. Que solidão.