
Eis o que é o VAR: um tira tesão. Como hoje viu quem quis ver um grande jogo de futebol e pôs os olhos no Manchester City contra o Tottenham. Estava 4 a 3 e o City precisava de um golo para assegurar a passagem às meias finais da Champions. E marcou. Os jogadores explodiram de alegria. Encostado à linha lateral, Pep Guardiola, o treinador do City, saiu de si mesmo, arrebatado, como quem acabasse de ver a face de Deus. Correu, saltou, um rosto eléctrico, relâmpago de felicidade. E veio o VAR. E agora veja-se, e só me sai esta analogia de carácter, digamos, sexual. Nem é bem dizer que “ai, ai, ai, tira, tira, tira”. O VAR supõe, e quer forçar-nos a acreditar com pretensão científica, que nunca esteve onde esteve o que já esteve lá dentro. É o anti-clímax, a negação da emoção, uma imposição contra-natura.
Não me azucrinem os ouvidos com a verdade. Um cagagésimo de Aguero estava offside, num instante em que nem o avançado do City, nem os defesas do Tottenham, previam que voltasse a eles a bola que já ia para o meio do campo do City. Aquele cagagésimo de Aguero, o mais esticado dos seus pêlos púbicos, não interferiram verdadeiramente na jogada, cuja verdade, diga-se, é a beleza da coisa, a arquitectada emoção do ressalto e a combinação que se segue – quando Aguero e os defesas adversários reagem já não há o fora de jogo que tecnicamente existiu quando eles estavam fora de acção.
Qual é então a verdade?A verdade do futebol tem de ser igualzinha à verdade da poesia. Que raio de verdade é que há nestes versos, “Dai-me uma folha viva de erva, uma mulher. / Seus ombros beijarei, a pedra pequena/ do sorriso de um momento”? Ou nestes “April is the cruellest month, breeding / Lilacs out of the dead land”? Uma só verdade: uma danada e inexplicável emoção que resulta da fricção das palavras. A emoção do futebol é a sua fricção. O VAR é uma vaselina a posteriori. Valha-me Deus, não se negue o que, ganha a posição, perna a dobrar outra perna, carne na carne, já esteve lá dentro.
Ah Manuel, o que eu ganho em não gostar de futebol e o que poupo em vaselina!
(Helder e Eliot já é outro campeonato).
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Ah, extraordinário Gonçalo 🙂
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