Esta aguarela de Pablo Picasso andou meio perdida em escusos quartos londrinos. Vai para dez anos, foi reencontrada e acabou leiloada por 101 mil euros.
Intitulada “Étreinte”, a pintura figura e celebra a entrega de dois amantes, o próprio pintor e Louise Lenoir, a quem Picasso chamava Odette. Foram amantes nos primeiros anos do século XX, período de que data a aguarela. Diz-se que terá sido a sua primeira amante francesa e que, nesse tempo, o pintor andava ainda à procura de “um estilo”.
Olha-se para este abraço e percebe-se nele uma beleza serena, sem ameaça. Uma noite enorme e dois seres que não se incomodam com o que os espera, lá longe. Daqui a pouco ela vai levantar-se, nua, cabelos desalinhados a cair pelos ombros, e ele há-de ficar a olhar, desinteressado, para a frágil beleza dela, um miraculoso cigarro a rolar-lhe nos dedos.
Picasso encontrou um estilo (ou estilos), mas nunca deixou de voltar com outros “Étreintes” ao seu primeiro “Étreinte”.
É uma banalidade, mas uma banalidade feliz voltar onde fomos felizes. Mesmo que seja em pensamento. Ou em pinturas.
LikeLike
Spiraal, tudo o que seja ficarmos duplamente felizes é bom!
LikeLike