Tomei a bica curta. Ia ao cinema e precavi-me, que a sala escura convida ao sono. Vi “O Correio da Droga”, de Clint Eastwood, actor e realizador a um passo dos 89 anos. Fez já uns cinco filmes a roçar a perfeição.
Se estão prontos para experiências fortes vejam “O Correio da Droga”. O filme desliza suave e irónico como a carrinha de Eastwood pelas estradas da América. Mas, a pouco e pouco, a morte, a consciência da morte, invade-nos. Saí da sala com a alma ao colo. Tenho 65 anos, sei que vou morrer, mas foi a primeira vez que experimentei morrer um bocadinho. Morrer é assim, tristeza tão bonita, um esplendor que nos faz chorar.
Bica Curta, publicada no CM
A Página Negra de Manuel S. Fonseca 
Que descrição tão bonita desse sentir. Que vontade de ver o filme. Obrigada
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Eu é que lhe agradeço, Paula.
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Também gostei do filme. Mas morrer não é assim. Já morri várias vezes e esse esplendor triste não o senti. E no entanto tem razão, a quem está vivo e consciente de que a morte não está longe – até pelo andamento do filme -, aparece a morte como o tal esplendor triste. Não se iluda, morrer é outra coisa. Garanto.
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Eu creio ter uma certa empatia, serena e triste, com a morte. Mas não sei, Bea, mais do que isso.
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Já dizia o Cioran que” ter medo de morrer revela um certa falta de elegância…”
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🙂 é bem pensado
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A morte como sol poente? Ou a vida, que não morre nunca, antes nasce e renasce?
Também gostei de “La Mule” (vi o filme em Paris), mas sobretudo da interpretação de Clint Eastwood (aos 88 anos de idade!) e da fotografia… Que mais?
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