Este é o meu quase diário.
Escrito a bicas-curtas. Uma, tomada no tribunal; outra, com Bob Dylan e Zeca Afonso; a última, na fronteira das Irlandas, já de chapéu posto.
Bica Curta
3ª feira, 29/1/2019
A juíza fria
A bica estava a saber-me tão bem que pensei, isto hoje está bom para assaltar o Banco de Portugal e sacar uns 50 quilos de ouro. Pois sim, e a chatice da polícia e tribunal? Talvez, e era a bica a saber-me bem, apanhasse uma juíza gira que se encantasse comigo e me desse liberdade condicional em casa dela! Mas a menina do café acenou-me com uma notícia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts: os tribunais vão ter inteligência artificial e um algoritmo avaliará se o réu é menino para repetir o crime, decidindo se fica preso ou sai em liberdade. Eis o futuro: tal como a bica, uma máquina servirá a justiça. Vai é servi-la fria.
Bica Curta
4ª feira, 30/1/2019
Maior que Bob Dylan
Descobriram-se gravações inéditas de José Afonso. Eu fumei-o, bebi-o e dormi-o em aventuras entaladas entre a adolescência e a maturidade. Sempre pensei: o Zeca podia ser tão grande, no mundo, como é Bob Dylan. “Somos Filhos da Madrugada” devia ser o hino de quem tem 18 anos de sede, tesão e inquietação.
Dizem-me: o Zeca é um “cantor de intervenção” e já o diminuem. Sobrevaloriza-se a política e deixa de se ouvir a sua realíssima emoção musical. Era de esquerda. Era, haja Deus. Mas Fernando Pessoa também é de direita e não é por isso que o lemos. Triunfasse a esquerda que tanto faz dele bandeira e, abafado, nem o Zeca cantaria.
Bica Curta
5ª feira, 31/1/2019
O sonho e o pesadelo
Em Portugal, o sonho da extrema-esquerda, PCP ou Bloco, é a saída da União Europeia, o nosso Portexit. A direita populista inglesa, aliada aos próceres da desregulação da alta finança da City, e em involuntária veneração aos nossos PCP e BE, experimentou a receita. Resultado, não há bicas curtas para ninguém: as empresas fogem, espatifam-se empregos e o regresso da fronteira entre as Irlandas acende até o velho rumor dos tiros. Um caos a que Trump bateu palmas em público e o insidioso Putin nos bastidores. Afinal, descobrem os ingleses, havia reais benefícios na Europa. Percebeu a nossa extrema-esquerda o pesadelo do seu sonho?
A voz do Zeca é única e as suas canções não morrem. Não as mata a esquerda nem a direita porque o povo que o Zeca cantou e existe e acredito que resiste, é o único que tem memória.
E tem razão, “somos filhos da madrugada” é um hino juvenil e foi a primeira canção de José Afonso que aprendi de fio a pavio. Jovem é que eu já não era. Paciência, não se pode ter tudo. Bem entremeado, somado e dividido, juntando os meus filhos que eram ainda crianças e também a aprenderam, ficamos todos pelos dezoito. Mais coisa menos coisa.
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É sempre tempo para o Zeca… ele também nunca foi novo.
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Bom dia Manuel.
Nada como um café logo de manhã para espevitar. 🙂
Era bom que fosse “da lei o que é da lei”, mas já no velho Oeste a malta acredita pouco nos juizes, preferia contratar um daqueles tipos que tinham o coração noutro sitio qualquer. Mas as máquinas não me deixam muito confiante (tal como VAR serão de certeza “comandadas” pela mão humana…).
O Zeca era mais tudo que o Dylan. Mas é do tempo que Portugal era uma província de Espanha (patranha alimentada pelos nossos “hermanos”). Se ele tivesse sucesso além fronteiras, tratavam logo de lhe chamar Alfonso…
Alguns ingleses ainda pensam que são uma grande potência mundial, que o mundo gira à volta de Londres… Só que o mundo mudou…
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Olá Luis, bicas bem tiradas as suas. Um abraço
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