Hoje, o jornal i publica uma longa entrevista comigo. Está aqui, disponível na rede. O pretexto foi a publicação do meu Pequeno Livro dos Grandes Insultos. A um dado momento, o entrevistador trouxe o meu passado angolano à baila. E eu confessei-me:
Gostava de ter ficado em Angola?
Na altura podia ter tido a nacionalidade angolana, mas aconteceu que eu era um jovem maoista e entrei muito rapidamente em choque com o MPLA, que apoiava, ao qual pertenci mesmo, no Lobito, nos anos de confronto com a UNITA. Mas quando chegou a independência já as minhas relações com o MPLA eram de grande distância, para não dizer de fortíssima oposição. Opúnhamo-nos a todos os outros, mas também ao MPLA.
Porquê?
Tem a ver com opções políticas e, para mim, a percepção, que se tornou evidente, do autoritarismo e da emergência de uma ditadura. Daí o abandono do maoismo muito rapidamente, também. A percepção de que éramos profundamente autoritários e capazes de gerar monstros, tive-a cedo na vida. Aquilo que aconteceu no Camboja não aconteceu por acaso, os jovens idealistas convertem-se rapidamente em gente perigosa se não houver antídotos. E do que me apercebi aos 20 anos foi que o que vinha era tão mau ou pior do que o que tinha vivido antes e recusara, a ditadura salazarista. Nunca mais voltei a pertencer a um partido político nem a fazer vida política porque a minha descrença tornou-se muito forte e, sobretudo, a descrença em mim próprio por ter apoiado e pensado que aquilo que defendia era uma solução.
Quero sublinhar o trabalho do jornalista António Rodrigues, a quem agradeço o rigor da pesquisa e a fidelidade à conversa.
(gostei de ler, foi quase como se nos encontrássemos no café e eu o enchesse de perguntas) 🙂
LikeLike
Obrigado pela simpatia. Ainda um dia tomaremos um café 🙂
LikeLike
Gostei de ler, assim como leio as suas crónicas semanais no Expresso. Aprendemos sempre alguma coisa com a sua prosa irónica,sabedora e enciclopédica.
LikeLike
Obrigado, caro Albertino, pela gentileza.
LikeLike