Ah, vou confessar-vos que o meu melhor sonho era ir aqui com os meus melhores amigos e cantar, assobiar, bater palmas com esta gente que está ali em êxtase no vídeo, enfim, soprarmos nas mesmas cornetas.
Espanta-me o terrível erro em que tanta gente teima. Como é que não perceberam que a alegria, a maior alegria, é fazer sempre a mesma coisa? Pode haver alguma coisa melhor do que cantar sempre a mesma canção? Já viram o sereno aroma que se evola (ó meu Deus, eu disse mesmo evola?) dos mesmo versos repetidos anos a fio, sem a angústia de palavras novas de que podemos não nos recordar?
Do que gosto é de saber que queremos todos cantar as mesmas canções, seguir o mesmo ritual de assobios, aplausos nos pontos certos, nos pontos que todos sabem, num coro que afina e desafina por unanimidade.
Este é um dos inenarráveis prazeres do Verão londrino, a Última Noite, Last Night of the Proms. Sabe bem entrar nessa multidão uníssona, cantar debaixo da brisa de uma única bandeira, que são mil bandeiras. A alegria é cantar mil vezes o “Rule Britannia”; a alegria é a ausência de surpresas.