A Guerra e Paz faz 17 anos

Uma editora para maiores de 17

Dia 10 de Abril. Hoje a Guerra e Paz editores faz 17 anos. Para mim, é uma idade tenra e, até, concupiscente: quando eu era miúdo, os filmes para maiores de 17 eram a porta de entrada para o quarto escuro das grandes ousadias, para esses filmes em que se via ou dizia o que até aí era suposto não vermos, nem dizermos, fosse pela índole sexual, fosse pela alusão política ou religiosa.

A Guerra e Paz editores não precisou de ter 17 anos para dar a ler e dizer, com total liberdade, tudo o que quis dar a ler, do divino Marquês de Sade a D. H. Lawrence e à sua «Lady Chatterley» ao «Manifesto Comunista», dos rebeldes Marx e Engels, e «Mein Kampf», do odioso Hitler, ou o pequenino e feroz livrinho do ditador Mao. Isto, só para falar de flores eróticas ou tragédias políticas.

Aos 17 anos, a Guerra e Paz editores é – e continuará a ser – uma editora livre para escolher o que quer publicar. E queremos publicar livros que sejam uma grande aventura intelectual: as Novas Edições de Jorge de Sena, ou o nosso primeiro Atlas português, o «Atlas Histórico da Escrita», de Marco Neves. Queremos publicar livros que não se rendam: agora Isaiah Berlin e Thomas S. Kuhn, amanhã a «História do Fascismo», do grande Emilio Gentile. Sim, privilegiamos a aventura e a emoção. O lema rimbaudiano das «Iluminações» que também vamos publicar – a ciência, a elegância, a violência – não é estranho aos nossos 17 anos.

Hoje, 10 de Abril de 2023, é dia de beijos e abraços:
para quem aqui trabalha, o Ilídio, Zé, Carla, Américo, Inês, Mário, Maria José e Rita;
para os meus sócios, António Parente e Pedro Nabinho Henriques, por acreditarem, e para o Abílio Nunes e António Palma, que é como se fossem sócios;
para os nossos excelsos autores, com estrondoso aplauso;
para os nossos tradutores, revisores e paginadores;
para o nosso distribuidor, a VASP e para as combativas e resistentes livrarias portuguesas;
para as gráficas com que trabalhamos, sempre a Publito, também a DPS e a ACD;
para antigos trabalhadores e antigos sócios, a quem também devemos o que hoje somos.

E acima de tudo para os nossos leitores. Sem os leitores, sem a curiosidade insaciável deles, sem os incansáveis olhos que devoram páginas e se exaltam, choram, riem, sonham a ler os nossos livros, nós não valíamos dez réis furados. Que os vossos olhos nunca se cansem, que a vossa sede de emoção e de conhecimento nunca vos largue. Obrigado pelo vosso amor à Guerra e Paz.

Manuel S. Fonseca, editor

4 thoughts on “A Guerra e Paz faz 17 anos”

  1. Parabéns a todos os “Guerreiros da Paz”, em especial ao Manuel.

    (Estou já distante do meio da “Crónica de África”, e é uma maravilha sempre que folheio este livro de memórias tão cintilantes, que tem essa coisa boa de também me levar de volta à infância e a recordar amigos e lugares que fazem parte da nossa história e do nosso imaginário – e ainda bem.
    Até registamos um ou outro apontamento, que nos vem à memória… mesmo sabendo que nos falta a arte de misturar a vida com o cinema e com todas as coisas, pequenas e grandes, trazendo para a nossa mesa gente que nos encantou e continua a encantar…
    Manuel venham daí mais crónicas. Só as de “Hollywood” e arredores davam um livrão – eu sei, porque leio o Manel desde os anos noventa (serão oitenta?)nos cadernos culturais do Expresso)

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  2. Ámen para tudo o que o Manuel postou sobre o aniversário. Longa vida à Guerra e Paz e que os leitores sejam cada vez mais.

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