
Hoje, quando o mundo se despede de Paula Rego com uma vénia, não consigo deixar de me lembrar que a minha vida de editor lhe deve muito. Ainda não existia a Guerra e Paz, tinha eu acabado de fundar, com amigos, a Três Sinais editores, uma musa ou um deus – e disso é que já não me lembro – plantou na minha pobre cabeça a ideia de que devia fazer um livro que combinasse a pintura de Paula Rego e a escrita de Agustina. Com uma gentileza serena, Paula Rego, ao telefone, aceitou, prometeu que faria novos slides de mais de uma centena de criações suas e, de Londres, remeteu todos os contactos para Manuel de Brito, seu braço direito na Galeria 111.
Começava aí a aventura de uma das mais belas edições que já fiz, As Meninas. Das Meninas da obra de Paula Rego, escreveu Agustina que «têm o rosto das criadas que andavam pela casa da Ericeira e que tinham duras mãos capazes de assassinarem alguém.» Paula Rego, a artista, tinha essa consciência assassina ou, e em tudo continuo a citar Agustina, a pureza mais cruel. Essa pureza e essa crueldade vão fazer falta ao mundo. Fica a tremenda obra cheia de gritos e medos. Um pequenino livro da Guerra e Paz, As Meninas, é um humilde, mas belíssimo testemunho que eu, seu editor, guardarei como um tesouro.
Cito outra vez Agustina: «Assim passamos e as coisas passam por nós.»
e eu não tenho mais que ofertar-lhe que a minha admiração sincera pela luta que desenvolveu em toda a sua arte. E foi tamanha.
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E foi mesmo, Bea.
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Todavia, ela não pintou um retrato de Volodymyr Zelensky, portanto, está do lado errado da História. É inaceitável que os canais noticiosos interrompam a propaganda de guerra, quero dizer, a informação independente sobre a guerra para referir uma pintora periférica. Lá dizia o velho Deleuze O essencial são os intercessores. E o intercessor geral é Volodymyr.
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Hello Maturino, sempre a dares-me música: great song, by the way.
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