
Toda a gente sabe. Até um miúdo de 15 anos. Vamos supor que a mãe ou o pai lhe dizem isso, que vão morrer um dia destes. O miúdo ou a miúda, com um inflexão condescendente, logo dizem que sim, que todos vamos morrer um dia. E deixa lá isso, pai.
Mas isso, e deixa lá isso, pai, não é ainda saber. É só pura lógica. Saber sem saber.
Até que um dia se sabe.
Eu hoje sei. O que sei já não é isso, não é que vamos todos morrer um dia, está claro. O que agora eu sei é que eu mesmo – não os outros – vou morrer.
Eu não ia morrer. Morreram-me pai e mãe, o João Bénard, o Pedro Bandeira Freire e o Escudeiro, a Dulce e o Dinis Machado, a Mitas, o Alface, o meu Manel Cintra Ferreira, o Rui Santana Brito.
São muitas razões para eu ter começado a alimentar dúvidas e, ainda assim, eu não ia morrer. Dentro das minhas preocupações, planos, objectivos, nada, nenhum deles tropeçava na esquelética morte ceifeira.
Que filosofia me pôs com dono? Wittgenstein, nos “Últimos Escritos sobre a Filosofia da Psicologia”, disse: “Crê o cão que o seu dono está à porta, ou sabe-o?” O itálico é de Wittgenstein. Ou de algum dos seus alunos, a que uma inflexão da voz do filósofo causou um arrepio, arrepio que logo traduziu nesse terrível itálico.
Eu, sem nenhum arrepio, sei quem está à porta e ladro.
Isso tudo pode ser muito verdade, mas só me lembrou Tom Jobim e a canção, “eu sei que vou te amar”: Se quer que lhe diga, Manuel, acho-a preferível qb.
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E nãp obstante é preciso não morrer para se amar 🙂
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