Granta: a minha sala de cinema

Já está nas livrarias a revista Granta. A convite de Pedro Mexia, escrevi um texto sobre a experiência da sala de cinema. A escrever um texto teórico preferi servir-me da minha realíssima e concreta experiência e escrevi um texto autobiográfico. Deixo aqui um pequeno excerto.
Façam o favor de comprar a revista para eu não ficar mal visto…

Granta

Com excepção do cinema dos padres capuchinhos, na Missão de São Domingos, até aos dezassete anos, mais de 90% dos filmes que vi, vi-os com os olhos a fugir para o céu. Muitos na melhor das minhas salas, o cinema Miramar, o mais belo do mundo, levantado, como John Wayne levanta Natalie Wood em The Searchers, sobre as barrocas de Luanda. O Miramar, logo depois do seu jardim com as weliwítschias de longos braços estendidos atrás do pasmoso ecrã, caía a pique sobre o mar, tendo em fundo a baía, guindastes e os grandes navios conradianos do porto de Luanda, as refulgentes locomotivas do caminho-de-ferro da linha de Malange. Foi no meio dessa barriga de vida que vi, quinze anos, ainda mal o meu polegar do pé direito roçava a cinefilia, o Pierrot le Fou, de Jean-Luc, esse torcionário Godard, que tão depressa me salva de afogamentos, como me embrulha a cabeça numa toalha, enfiando-ma na água de uma banheira.

Leave a Reply

Fill in your details below or click an icon to log in:

WordPress.com Logo

You are commenting using your WordPress.com account. Log Out /  Change )

Twitter picture

You are commenting using your Twitter account. Log Out /  Change )

Facebook photo

You are commenting using your Facebook account. Log Out /  Change )

Connecting to %s

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.