Já aqui falei da Hipérbole, isso (ou aquilo?) a que, para já, só podemos chamar “the thing”. É uma pequena ou grande obra em progresso. Mas já há, nos bastidores, grandes movimentações. O Luís Jerónimo, que também é de filosofia, como eu fui e talvez ainda seja, é um dos autores que anda à volta dessa misteriosa hipérbole. Ofereceu-me este belíssimo texto, oração tão sincera. Faz sentido.
Luís Jerónimo
A hipérbole do sentido – uma oração a partir de Finita de Maria Gabriela Llansol
“Se eu nunca arriscar a razão, nunca saberei. Nunca saberei pensar”
Que eu consiga desconfiar da lógica, desafie a razão ao seu limite e me deixe seduzir pela verdade.
Que a dúvida persiga o que me sustem, que o absurdo me permita compreender melhor, revele o que me faz ser.
Que o saber ocupe o seu lugar, desatine o que vejo e ilumine o meu silêncio.
Que a imaginação me deixe confiar no rumor da beleza, na inquietação da esperança, na graça do mundo.
Que eu faça justiça à madrugada das paixões, à luz dos sentidos, ao abrigo das árvores que me conhecem.
Que eu me deixe enganar pelos livros que me desassossegam, pelos versos que me tomam de assalto, pelas palavras que estão por inventar.
Que sempre escreva como quem regressa.
Que eu me faça sentido.
LMJ
10 março 2019