Não fora um centímetro a mais na largura e seria um enorme quadrado, de 33 por 33 centímetros. Assim, por um centímetro é um livro de 33×34, metamorfose do quadrado em rectângulo. Não fora um poema da portuguesa Eugénia de Vasconcellos e Like a Tree Let the Dead Leaves Drop seria um livro com a pintura da sul-africana Jacqueline Alma, tão marcada pela vivência, enquanto criança, com a proximidade aos animais selvagens da imensa África.
A Pequena Ordem do Meu Mundo, Amigo Demócrito, o poema de Eugénia de Vasconcellos, autora da Guerra e Paz, ocupa oito páginas do livro, metade na versão portuguesa, metade na versão inglesa, traduzida por Margaret Jull Costa, tradutora também de Sophia de Mello Breyner Andresen, de António Lobo Antunes e de José Saramago.
Há, no poema de Eugénia de Vasconcellos uma aceitação da vida de um sereno dramatismo, olhar tão lúcido como céptico para o fluxo dos seres e das coisas, esse rio dos dias em que a poeta e nós habitamos. E cito:
E Eva saí de manhã
vi um lobo na varanda,
dois tigres na estrada:
fazemo-nos domésticos por amor,
fazemo-nos pequenos para seja grande
o que o nosso amor ilumina:
um filho, um homem, uma cidade,
uma ideia, uma obra, uma civilização.
Como a dádiva do Lobo ao Homem,
fê-lo dono, fê-lo amo, fez-se cão.
Ou, em inglês:
And I, Eve, set out early
and saw a wolf in the balcony,
and two tigers in the road:
we make ourselves domestic out of love,
we make ourselves small so that
what our love illuminates can be big:
a child, a man, a city,
na idea , a work of art, a civilization.
Like the gift the Wolf gave to Man,
made him his lord, made him his master, and made himself dog.
Recebi este livro e no livro um poema. Um poema bastaria a Eugénia de Vasconcellos, sobretudo este poema de conversa com o mistério do mundo. Mas não. Eugénia tem também, a “um verso de cada vez”, dois livros maiores publicados na Guerra e Paz editores, O Quotidiano a Secar em Verso e Sete Degraus sempre a Descer. Vem o terceiro a caminho.
Sophia Andresen:)
Eugénia de Vasconcellos é um caso sério da poesia portuguesa contemporânea. Indubitável. A Guerra e Paz tem nela um elemento pujante.
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estamos de acordo, ortográfico até, em tudo. Viva a Eugénia da Guerra e Paz.
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Senhor editor, fico contente, decerto que o sabe. Muito obrigada pelas boas palavras, por ter cedido o poema para a pré-publicação por outra editora.
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Ora essa, o seu poema, diga-se, merece mais do que eu sou capaz de dizer.
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Eugénia, gosto tanto!
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Faz bem, Júlia. Já somos dois.
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