
O Simca Aronde, segunda mão, em que o meu pai me levava, era igual a este, mas azul e branco. Passámo-lo a cinzento metalizado, logo que a Direcção de Viação deu licença, nesse tempo de pedir licença. Andávamos pelas ruas de Luanda, asfalto e terra vermelha, Vila Alice, igreja de São Domingos ou Sagrada Família. E íamos até às praias, para sul, quase até à foz do Kuanza, pic-nic no Morro dos Veados.

A última vez, com as válvulas à beira do colapso, a cambota em surdos lamentos, os pistões a ameaçar greve, fomos way East, ao Dondo, passando por Catete, Maria Teresa, Zenza. Depois, uma subida a pique, até Cambambe. Fomos nós – o meu pai e a minha mãe, irmã e eu, candengue – que o levámos pela mão, ao Simca, já tão lacrimoso e ainda muito francês. Não o deixámos, mas se calhar devíamos tê-lo deixado morrer no meio do mato africano que tem o apetite voraz que as mães gostam de ver nos filhos.
Simcalhar deviam tê-lo deixado no recanto onde se divertiu, como dizes, lá onde ele abraçou e foi abraçado, na poeira poeirada que não era mais que um ” Olá ” das estradas, para quem nelas passava. Muito bom, como sempre, meu Kamba.
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Komé, meu kamba, vieste aqui poeirar-me de estrelas a minha tortuosa picada? kandandu
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