Hoje, chega às livrarias o segundo livro de poemas de Eugénia de Vasconcellos, de que sou editor. O título não podia ser mais bonito, com um fio de tristeza a roçar o desalento: Sete Degraus sempre a Descer.
Breve livro de 56 páginas, divide-se em quatro partes e reúne 23 poemas. É um livro de fogo e cinzas, que interroga dois ofícios, o poético e o amoroso. C’est quoi la poésie?, o primeiro poema do livro, logo nos diz que essa interrogação dos ofícios não vai ser feita à maneira de um exercício formal, que não é esse o modo como operam a mão e o pensamento de Eugénia de Vasconcellos. Ao ofício poético e ao ofício amoroso, Eugénia de Vasconcellos interroga-os à faca e à vida, faca e vida que se fundem em desejo e em corte do desejo.
A poesia de Eugénia de Vasconcellos surpreendera-nos, no seu livro anterior, O Quotidiano a Secar em Verso, pela sua torrente discursiva, bem e malcriada, amorosa e violenta, sem remorsos ou ressentimento. Sete Degraus sempre a Descer oferece-nos a brandura que antecede o reino dos infernos, uma brandura que espera a palavra que salva ou a boca que beija. Nunca chegam, nem a palavra, nem o beijo.
Este é o livro da respiração contida, da espera – horas que se sucedem às horas. Respiração e espera que antecedem o momento do ciclone ou da explosão escura. Estes são os poemas de músculos tensos, tesos, retesos. Uma palavra mais e acabarão, fora deste livro, taça transbordante, a devorar um corpo, outros corpos, faca enterrada na vida, porque «pode uma pessoa partir-se em bocados, / de tão funda ir a lâmina afiada.»
Esta é a capa. Em baixo, deixo-vos um dos poemas e um aviso: sou o editor, mas se querem encontrar a mais órfica beleza, têm mesmo de ler.
O Amor é um canto
de riso e de lágrimas,
um canto concreto e fremente,
uma existência.
Uma oração.
A pequenina chama sempre acesa que
serve à adoração.
Tenho a certeza que, se para tanto viva, vou comprar o livro da menina Eugénia que sempre me parece criança e depois escreve como escreveria minha avó se soubesse fazê-lo. Quem sabe, Eugénia, de bem que escreve, o faz pelas duas.
E admiro a elegância da capa simples que guarda os ciosos poemas que ainda desconheço.
Parabéns aos dois. E muitos “Sete degraus sempre a descer” nos sapatinhos de Portugal (não faz diferença se haja estrangeiros à mistura).
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Bea, tem toda a razão, a Eugénia tem na escrita três gerações.
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