Com péssima caligrafia, mas inspirada mão direita e arpejos da esquerda, Ludwig escreveu “Für Therese”. Queria, julga-se, encantar Theresa Malfatti, uma italiana mais volúvel do que o romântico Beethoven julgava. Ofereceu-lhe a partitura, o que para sermos rigorosos, as fontes históricas não confirmam. Mas confirmam que Therese não tinha Ludwig no devido apreço. Por ser ele caótico, por ser menos handsome e sedutor do que, a crer no seu talento, nós julgamos à distância.
Therese, com feminino egoísmo e razoável desdém pela posteridade, rejeitou o surdo compositor que seu pai, médico, tratava, e casou-se com von Drosdick, que era barão. Justiça poética: a caligrafia de Ludwig, de fazer dó, mal lida e em sustenido, vingou-se e riscou da sua vida a insonsa Therese, para fazer nascer inteirinha, como Atena da cabeça de Zeus, a imortal Elise que agora, como Ludwig, gostaríamos de eternamente amar:
“Für Elise” é um solo de piano de Beethoven. Começa com uma irreprimível alegria (“joy”, em inglês, diz melhor o que o alemão tinha na sua surda cabeça), passa por uma atormentada dúvida e termina no mais certo e esgazeado sofrimento. Por tudo isto, que acontece em 3 minutos e 30 segundos, vale a pena amarmos, sem distinção, o obstinado Ludwig, a insípida Therese e a etérea Elise.
É o meu classic weepie favorito.
Um encanto que não cansa.
LikeLike
É só deixarmo-nos ir…
LikeLike