Descobri Gaspar Fernandes e este Pois Com Tanta Graça há nove anos. Ouço-o tantas vezes. Por isso, trago hoje, de novo este velho post. Quando pela primeira vez ouvi este villancico, derreti-me todo. Não de calor. Só da doçura e delicadeza que também podem ouvir, se não ouviram já, neste vídeo. Ouçam e, depois, se estiverem para isso leiam – é irrelevante – a informação que abaixo se planta.
Gaspar Fernandes terá nascido em Évora na segunda metade do século XVI. Há registos da sua passagem como cantor pela catedral de Évora. No último ano do século, a 16 de Julho, foi contratado como organista para a catedral de Santiago da Guatemala que deixaria sete anos depois para ser o mestre capela da catedral de Puebla de los Angeles, onde permaneceu até à sua morte, em 1629.
Se já houvesse “world music” (houve sempre, pensando bem), este português que tão bem se casou com o Novo Mundo teria sido um dos seus expoentes. Foi uma espécie de Giacometti dos coros litúrgicos polifónicos, tendo recolhido os manuscritos de corais de muitos compositores renascentistas espanhóis. Gaspar Fernandes foi ele próprio compositor de música litúrgica. Em Puebla, na Nueva España que o México já foi, o compositor exercitou a sua veia vernácula de que o villancico acima é um exemplo. Nas suas composições usou o espanhol, o português, um pseudo-africano e os dialectos ameríndios. Pois Com Tanta Graça é uma deliciosa supresa. Acredito que Gaspar Fernandes a tenha composto para ser ouvida em salão de sombra ou em pátio fresco, mas continua a ser charming, mesmo ouvida no calor europeu de fim de Verão.