O meu anti-herói favorito também canta. Vamos já ouvi-lo. Primeiro, como se fosse preciso, apresento-o, até por tê-lo conhecido em Tróia, aquela península ali mesmo à frente de Setúbal – como o Setúbal, o meu velho kamba, António Gutierres, atestará no primeiro tribunal ou juízo de Deus a que nos convoquem.
Bob Mitchum, um rio tranquilo. Talvez, por isso, podia beber sem limites. Sidney Pollack, que o dirigiu, diz que bebia o dia todo sem que o nível de consciência e de comportamento se alterassem.

Menino bem nascido, nasceu cansado. E era esse o segredo das suas personagens: homens robustos, sólidos como armários, mas cansados, cansados demais para esconder que havia muitas outras coisas para além do que as suas palavras lentas e os gestos quase inexistentes deixavam transparecer.
Percebe-se, de Out of the Past a Angel Face, que a emoção de Robert Mitchum é uma emoção ferida. Se lhe dissessem que era inexpressivo não negaria, mas auto-explicava-se com uma teoria mais zen: “Look, I have three expressions, looking left, looking right, looking straight ahead”.

Tinha um metro e oitenta de falsa timidez, cabelos escuros e olhos azuis. Não ia ter com as mulheres porque as mulheres vinham ter com ele, mas casou um casamento de 57 anos com a namorada de juventude. Em Farewell my lovely, o personagem dele engata uma incendiária Charlotte Rampling:
– “My place?”, diz ele.
– “What for? You got everything we need with you”, sossega-o ela.
Dois anos antes de morrer, em 1995, Jim Jarmusch dirigiu-o em Dead Man. Deram-se bem. Jarmusch conta 123 histórias dele, mas a favorita é uma blague. De manhã, quando se encontravam no estúdio era sempre assim:
– “How are you this morning Mr. Mitchum?”
– “Worse.”
Hi to all, the contents existing at this web page are in fact awesome for people experience, well, keep up the good work fellows.
LikeLike