Faço a lista dos meus pequeninos ódios. Ódio é, talvez, um termo excessivo, mas é verdade que detesto:
- Que digam “eles”. Na política, nas empresas, no quotidiano, quando alguém diz “eles”, cheira-me a fraqueza e a irracional auto-exclusão desculpabilizante.
- Que alguém se arrogue o “amor do cinema” ou o “amor da literatura” ou o “amor da pintura” para garantir uma qualquer forma de autoridade ao que tem a dizer sobre um filme, um livro, seja o que for.
- O discurso anti-religioso apocalíptico. Sendo eu ateu (ou serei só agnóstico?), entendo como menoridade intelectual a incompreensão dos valores éticos e estéticos que estão associados às representações religiosas;
- O puritanismo incapaz de se divertir, um bocadinho que seja, com o sexo, com os pecadilhos (e vá lá, de vez em quando, um pecadão) que com ele – o precioso sexo – fazem procissão.
- A seriedade nata. Sabem como é, aquela que recusa o humor. Gente de fronte alçada que, para ser solene, tem de apresentar-se sempre com ar de dia de Finados.
- A insensibilidade social. Aflige-me que, por superficialidade, pura tolice ou por cadavérico enquistamento, alguém perca o mais decente dos sentimentos, o da compaixão pelos seres humanos que caprichosa ou raivosamente a vida maltratou.
E detesto descobrir que, por mais implacável lucidez de que me reclame, não posso afinal dizer que “desta água nunca bebi ou beberei”. Fico aqui quietinho, contando que sejam mais magnânimos e misericordiosos do que eu.
Olá, Manuel! Há tempos não explorava o WordPress e fiquei contente de encontrar o seu blog! Eu me identifiquei muito com a sua lista de ódios! Acho que farei este exercício aqui, mas temo chegar a uma lista mais extensa que a tua… Abraços!
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Liah, o que conta é o espírito, não a extensão 🙂 Desabafe à sua vontade. Sempre lhe fará bem e não faz mal ao mundo. Obrigado pela visita. venha sempre.
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É que nem pense, somos até piores (eu); Digamos que não são ódios, porque, em geral, qualquer ódio delibera, afincadamente, magoar o objecto do ódio, deseja-lhe mal e satisfaz-se na mágoa do outro; uma espécie de prazer ou libertação que se tem em fazer sofrer.
Não é o meu campo. Acredito que não seja o de muita gente. E, se for o nosso campo há-de ser muito poucochinho tempo e fazer o menor mal. Mas talvez não sejamos isentos.
Portanto, fiquemos pelo detestar. É aí que peco de forma emérita e com uma séria chusma de alíneas. As 5 e 6 tornam muita gente desinteressante.
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