Adeus

Despedi-me dos jornais. Esta foi a minha última crónica no CM. Jà a seguir publica a última crónica no Weekend. Reservo-me uma missão: a de traduzir, escrever e editar mais livros – se possível, melhores livros, nas agora minhas duas editoras, a Guerra e Paz editores e a Gradiva Publicações. Aqui, continuarei, enquanto estiver firme, a trazer notícias de livros e de mil e uma coisas da vidaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.

Venho despedir-me dos leitores do CM, como há dias, por minha livre decisão, me despedi do Octávio Ribeiro, que, há sete anos, teve a gentileza de me convidar para o CM, e do Carlos Rodrigues, agora meu excelente director. Tal como disse a esses meus dois amigos, digo-vos, caros leitores, que me despeço com entusiasmo. Em vez de choro, alegria.

Quis o destino que, aos 72 anos, me caísse ao colo uma bela editora de livros, a Gradiva. Vou geri-la e ser dela o editor, como já o sou da Guerra e Paz. É uma missão exigente, e com o dobro da responsabilidade, para que parto como se ainda tivesse os meus longínquos 30 anos. Seria leviano não concentrar todas as forças que me sobram nesse projecto.

Quando eu era novo, acreditava que a coisa mais importante da vida era ter um ideal. Hoje, tenho a certeza. E eis do que não gosto no mundo que nos rodeia: não gosto da crispação dos discursos, não gosto da feroz polarização, não gosto da exclusão idiota, seja de quem for, por ser de direita ou por ser de esquerda.

Pode parecer risível querer alguém contrapor-se ao devastador tsunami de radicalismo que nos submerge. Haverá ainda lugar para um inocente neste mundo abrasivo? Já um parisiense cínico, um dia me avisou: é lindo ser inocente, mas convém não abusar. E, todavia, acredito que o livro é o grande contraponto ao radicalismo que nos tolhe. No livro há tempo para se pensar, no livro supera-se o imediatismo dos «sound bites», no livro cabem cambiantes e argumentos, esses argumentos que o subtil Oscar Wilde dizia detestar porque podiam ser convincentes.

Despeço-me, entre os 50 anos do 25 de Abril e os 50 anos do 25 de Novembro. Essa realidade dá-me a melhor imagem da despolarização que procuro: não é pelo PCP se armar em dono do 25 de Abril, que nos rouba a alegria desse dia de liberdade; não é pela direita radical se armar em dona do 25 de Novembro, que nos rouba a celebração desse dia de plural democracia. Num livro tudo isso fica ainda mais luminoso. Encontramo-nos na esquina dos livros. Obrigado.

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