O «meu» Houellebecq

Terá sido a palavra «pornografia» que me fez correr? Não sei bem como, mas consegui que Houellebecq me cedesse os direitos deste seu confessional Alguns Meses na Minha Vida. Sim, Houellebecq fala de pornografia, de como se filma: «As únicas actividades que podem ser de facto filmáveis são a masturbação e a felação. Isso é muito bom, mas está longe de ser tudo o que se deseja.»

Confesso eu também: o meu desejo por este livro vem da candura, inocência e franqueza com que o autor o escreve. Michel e a sua mulher fizeram, com uma jovem holandesa, «desejosa de foder um dos seus autores favoritos», um filme pornográfico. O autor queria que desse trio se soltasse uma «tripla corrente de empatia simultânea» que os levasse ao gozo físico extremo. Mas o filme descambou: o que podia correr mal correu muito mal, e tudo acabou em tribunal.

Este é o livro de um episódio sórdido e doloroso que a prosa e as ideias de Houellebecq resgatam, lavando o sexo de toda a culpa e descobrindo na pornografia dignidade e inocência.

Este é um livro sobre a beleza: de como Houellebecq prefere a pornografia, que consiga ser expressão sincera e honesta do desejo – do desejo pelo corpo de outros, do desejo de exibir o próprio corpo, do orgulho no sexo –, a Picasso e a Sade, que elege como símbolos da fealdade.

Queridos amigos, queridas amigas, não basta este «amuse-bouche» para correrem, como eu, a lê-lo? Então sim, sempre vos digo que o islamismo, a tensão islâmica, esse rumor subterrâneo que faz tremer a França é, ao lado da centralíssima cama, o segundo tópico de Alguns Meses na Minha Vida.

É o «meu» Houellebecq. Um pequeno Houellebecq. Será o melhor Houellebecq?

Manuel S. Fonseca, editor

Em jeito de posfácio, um excerto da obra: «Na posição missionária, injustamente depreciada, é perfeitamente possível ao homem, enquanto penetra a mulher, acar…»

Pois é, pois é, têm mesmo de ler! Chega às livrarias a 10 de Outubro. Em pré-venda aqui: https://www.guerraepaz.pt/produto/alguns-meses-da-minha-vida/

4 thoughts on “O «meu» Houellebecq”

  1. Gosto do Houellebecq escritor. Suponho que ainda que relate experiência pessoal que até parece mais ou menos fracassada nos seus dizeres (do post) – correu mal -, continue o caminho a que nos ensinou, o de um bom escriba. Penso ser o que mais me interessa nele. Se é de sexo que fala – e sempre o faz em cada obra – acredito que a análise seja honesta e use a frontalidade a que nos habituou.
    E parabéns por publicá-lo. Não é o meu autor preferido, embora tenha várias obras dele e pense adquirir outras, é uma voz do tempo que é nosso e gosto de literatura francesa. Mas, até ver, prefiro um português de nome Bruno Vieira Amaral. Pela beleza da escrita e porque vir do “bairro” Amélia – que conheci fora de leituras – e ter aquela fibra e conhecimento, é simplesmente notável.
    Bom dia

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  2. Cedeu à abjecção do acordês, Bruno Vieira Amaral. Eu, como não cedi, deixei de o ler.
    Com muita pena, mas é questão de básica higiene. E de princípio.

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    1. Sou contra o AO90, bato-me contra ele na minha editora, eventualmente com algum prejuízo nas vendas, sobretudo no escolar, mas não deixarei de ler um autor que admiro (e admiro o BVA, que tem um livro na minha editora) mesmo que faça uma opção com que eu discorde.

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