
O que pode um borra-botas como eu aconselhar a quem sofre a responsabilidade de mandar? A um Montenegro que leva uma nação perplexa e meio-doida pela mão, a um José Luís Carneiro que tem os estilhaços de um velho pote chamado PS para colar?
Na minha insensatez só posso aconselhar paixão. A mesma grande paixão que motivou David O. Selznick, o imenso produtor desse filme grandioso chamado «E Tudo o Vento Levou».
Já depois de ter filmado «E Tudo o Vento Levou», Selzick apaixonou-se por uma actriz, Jennifer Jones. Tenham Montenegro e Carneiro a mesma paixão por este pobre país! Selznick inventou um filme de cow-boys para a sua amada, um filme de tiros, bandidagem está claro, mas acima de tudo um filme de amor e morte e do que, naquele tempo era uma sensualidade escaldante. E se Jennifer transbordava volúpia e aquecimento global!
Para uma cena culminante desse filme, «Duelo ao Sol», Selznick foi ter com Dimitri Tiomkin, o compositor a quem encomendou a música. Pediu-lhe para essa cena uma música que fosse o «tema do orgasmo». «Orgasmo? Mas como é que se toca um orgasmo?» protestou Tiomkin. «Tente. Quero a música de uma boa ‘shtump’!» E já perceberam que «shtump» é em seis letras o que designa esse vaivém que em quatro letras faz felizes tantos portugueses e portuguesas.
Fazendo breve uma história longa, sentemo-nos com Selznick e Tiomkin e ouçamos a orquestra tocar os temas que iam dar vida e som ao «Duelo ao Sol». A orquestra tocou o tema espanhol, depois o tema do rancho, o do assalto e Selznick estava nas nuvens com música tão arrebatadora. Chegou, por fim, o tema do orgasmo. Era sensual, fulgurante. Mas Selznick torceu o nariz. «De que é que não gosta, Mr. Selznick?», perguntou o músico. «Gostar, gosto!» começou a dizer Selznick, e agora peço às famílias que metam as crianças no quarto, «mas não é ‘shtump’, não é assim que eu fodo!» Um incendiado Tiomkin passou-se da carola: «Mr. Selznick o senhor fode à sua maneira, eu fodo à minha. Mas isto é mesmo fucking music!» Teremos, em Portugal, compositor para tanto?!
Publicado no CM, em «A Vida Como Ela Não É», a minha crónica de cada 5.ª feira
Tenho esse DVD; já vi várias vezes e conto passá-lo brevemente numa sessão do Cineclube da Universidade Sénior da Portela. Vou estar atento à música!
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