Junho quente, livro valente

livros de junho, foicinha em punho

Está a chover sobre o Parque Eduardo VII. Chovem livros! Não obstante, arde o sol no azul do céu, a fechar a Primavera, e já se sabe, Junho quente, livro valente. Aos mil títulos da Guerra e Paz que lá temos, juntamos mais dez novidades. Ora ouçam e venham visitar-nos, que Junho abafadiço sai a abelha do cortiço.

Estamos na zona poente, (nos pavilhões B29, 30, 31 e 32), no alto do Parque, com vista soberba para um preguiçosíssimo e lúbrico rio: é o único sítio de onde se vê o Tejo, descuidado, de robe aberto à brisa!

E nessa jam session que é a Feira do Livro de Lisboa, também a Guerra e Paz, com uma voz de Ella Fitzgerald (ah pois), lançará dois novos romances, ambos de estreia: da brasileira Fernanda Teixeira Ribeiro, um inovador Cantagalo, Prémio Revelação Literária da UCCLA-CMLisboa; do português Pedro Fernandes, um negríssimo Os Filhos de Nihil, Prémio Nacional de Literatura Lions de Portugal. Obrigado UCCLA, obrigado Lions.

Ah, o 10 de Junho! Às 17:00, numa sessão que vai ser universal e nada paroquial, Margarida Braga Neves e António Carlos Cortez falam de Camões-Jorge de Sena, e aí se estreará o talvez mais belo dos 5 livros que comemoram os nossos 500 anos de Camões vistos por Sena. Apoiado pela Gulbenkian, o livro chama-se Babel e Sião: está lá, de Camões, a redondilha Sobre os rios que vão, em papel negro escrita a prata. E está lá o conto Super Flumina Babylonis, no primeiro encontro, no mesmo livro, de Sena e Camões enquanto poetas e criadores. Obrigado, Isabel de Sena, por ter abençoado este encontro comovente.

Nesse livro também está o Salmo 136, Babel e Sião, elegíaca digressão sobre o cativeiro de Israel, que inspirou Camões: esse mesmo salmo é o mote de um outro livro lúcido e pungente de Bernard-Henri Lévy, Solidão de Israel, combativa análise da guerra que o 7 de Outubro, perpetrado pelo ataque do Hamas, desencadeou. João Soares e Henrique Monteiro apresentam o livro, no próximo dia 8, às 14:00.

E, ou não se chamasse esta editora Guerra e Paz, juntámos, com a ajuda da Academia Militar e do Instituto Universitário Militar, os melhores especialistas militares e civis de estratégia: o livro chama-se Entender a Guerra Hoje: Estratégia, Guerra e Política. O título diz ao que vamos e a organização é de Antunes Ferreira, Luis Barroso. António Paulo Duarte.

Mas eis do que Junho estava à espera: agora sim, para os que querem perceber de onde vem a mortal pulsão totalitária que cerca hoje as nossas democracias, está completa a História do Fascismo, de Emilio Gentile. Menos de um mês depois do I volume, chegou o II volume. Volume I e II estão na Feira e, no dia 15, às 17:00, Isabel Alçada e Paulo Portas, falarão dessa obra monumental e da colecção Os Livros Não se Rendem, de que, há dois anos, a Fundação Manuel António da Mota e a Mota Gestão e Participações fazem doação à rede nacional de bibliotecas públicas: já ofereceram cerca de 4 mil livros.

Sim, não temos tabus. Contra os modernos gulags e auschwitzes do pensamento, foi com gosto que publiquei, do meu amigo Pedro Correia, Tudo é Tabu, Cem Casos de Censura, onde, com limpidez, se fala, caso a caso, de cem exemplos do que João Ubaldo Ribeiro chamou o delírio «totalitário, autoritário, asnático, deletério e potencialmente destrutivo» do activismo radical dito «politicamente correcto».

Das novas chancelas, que a Rita Fonseca lidera, na Crisântemo, escolheu ela duas digressões freudianas. Nestes tempos narcísicos, de recalcamento e algum Thanatos, é mesmo bom voltar a ler, do velho Sigmund Freud os sempre novos Do Narcisismo e Além do Princípio do Prazer. As edições estão leves, livrinhos de se meterem no bolso… e estão lindas.

Ora, se houve livro em que a Rita se esmerou, para a chancela de ficção, a Euforia, foi no originalíssimo romance em que volta a haver cowboys e cow-girls, mas contemporâneos, e há amores e desilusões com cores novas e originais, regresso à natureza como quem se fecha num monte no Alentejo. Chama-se Feita e Desfeita (Done and Dusted, no original), é de Lyla Sage, passa-se no Rancho Rebel Blue, e o romance é faiscante e de capa linda. Na América já é um bestseller: quem diria que os cow-boys, como Jesus Cristo, também eram capazes de ressuscitar.

Há mais sessões na Feira. Estão todas aqui, com indicação de dia, hora e local. Façam o favor de vir todos, todos, todos.

Manuel S. Fonseca, editor

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