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Olá, João! Já sei. Não me vai responder. Há 15 anos, que o João persiste nesse silêncio obstinado. Mas quero dizer-lhe que mesmo quando se cerra nesse mutismo, há frases suas que viajam no ar como se fossem cometas, auroras boreais, um meteorito igual ao do 2001, do Kubrick.
E deixe-me passar-lhe a mão pela vaidade – essa, sei que o João a tinha – há 15 anos que ninguém, mas mesmo ninguém, voltou a conseguir amar e fazer amar os filmes como o João nos ensinou a amá-los. Aquela sua forma de amar os filmes acariciando a língua portuguesa, enleando-se lubricamente nela, enchendo-a de beijos levemente salivados, esse modo misterioso de amor há 15 anos que se eclipsou, como se nos tivessem roubado Brigadoon ou a perfeita harmonia do verdíssimo vale que John Ford criou. Se tenho saudades? O que acha, João…
Publicado no Correio da Manhã, na minha Bica Curta