João Bénard da Costa, 15 anos

Foto do meu jantar de despedida da Cinemateca, em Março de 1992. O que estarei eu a tentar demonstrar ao João? E o Manel Cintra Ferreira, à direita do João, em que mundos de sonhos estará mergulhado?

Olá, João! Já sei. Não me vai responder. Há 15 anos, que o João persiste nesse silêncio obstinado. Mas quero dizer-lhe que mesmo quando se cerra nesse mutismo, há frases suas que viajam no ar como se fossem cometas, auroras boreais, um meteorito igual ao do 2001, do Kubrick.

E deixe-me passar-lhe a mão pela vaidade – essa, sei que o João a tinha – há 15 anos que ninguém, mas mesmo ninguém, voltou a conseguir amar e fazer amar os filmes como o João nos ensinou a amá-los. Aquela sua forma de amar os filmes acariciando a língua portuguesa, enleando-se lubricamente nela, enchendo-a de beijos levemente salivados, esse modo misterioso de amor há 15 anos que se eclipsou, como se nos tivessem roubado Brigadoon ou a perfeita harmonia do verdíssimo vale que John Ford criou. Se tenho saudades? O que acha, João…

Publicado no Correio da Manhã, na minha Bica Curta

Leave a comment

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.