
Escreve-te.
Molda
à martelada
a forma crua
do teu crânio,
remove
com a picareta
as nuvens
dos teus sonhos,
extrai
com o estilete
a necrose
dos sentimentos,
sufoca
na garganta
o gorgolejo
do teu canto,
e, sobretudo,
não esperes nada
do que amas.
Começa assim, com este poema, o livro “Que Túmulo em que Talhão“. O autor é João Moita. O júri da Associação Portuguesa de Escritores leu-o e deu-lhe o Grande Prémio de Poesia Maria Amália Vaz de Carvalho, de 2023.
O poeta João Moita, de quem a Guerra e Paz é a editora, destaca-se pela sua contenção, pela forma quase cruel como privilegia a escassez. Toda a exuberância de parabéns e euforia, olhando para a sua poesia, seria descabida. Lê-lo em silêncio talvez seja o devido tributo.