Tout, rien du tout

As mulheres são diferentes dos homens por quererem tudo. Tout. O que, claro, a qualquer homem parece logo rien du tout. Traduzindo, e nem é preciso ser para esperanto, os homens querem ontologicamente a mesma coisa: só que para os homens qualquer coisa, a mais pequenina coisa, é já tudo. O homem é holográfico: basta-lhe a fina abertura do decote e fica logo na veemente excitação de quem já viu a eternidade – um nimbado mamilo e, valha-nos Deus, os sonhos de toda a corte celestial!

Mas querem os dois, masculinos e femininos, a mesma coisa – os homens a mais pequena partícula, que acarinham como se fosse tudo, porque é tudo; as mulheres querem tudo com medo que o tudo seja menos do que a soma das mais pequeninas partes.

Vamos lá ser pedagógicos e ouvir cada um — uma mulher, um homem – pedir a mesma coisa. Vão ouvir que cada um, pedindo o mesmo, pede coisas diferentes.

Ladies first, claro, com mil perdões pelo execrável visual do vídeo – não vejam, ouçam só:

Ouviram? Claro que é lindo. Mas perceberam o artifício, a pose, o subtil prazer de tirar mais dor da contemplação da dor do que da própria dor? Ouçam lá agora um homem a querer a mesma coisa:

Claro que já viram a diferença. Até lhe custa começar, de tão fundo vem a voz. Rouca de emoção pela coisa que se quer. Nenhum cuidado com a expressão, toda a atenção vai direitinha para o coração um bocadinho partido da silly girl – ó, a forma como o rapaz aconchega a silly girl entre a língua e o céu da boca!

 A canção foi composta por Tom Waits para um dos meus filmes de culto, o One From the Heart, de Francis Coppola. Infelizmente, não consegui encontrar o momento mais comovente do filme, quando a personagem de Frederic Forrest, que não sabe cantar, do que a namorada sempre se queixava, canta o You’re my sunshine no aeroporto para que ela, arrebatada por um cantor, pianista, bailarino (tudo!), não o deixe.

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