A eternidade nunca mais acaba

Rimbaud
Arthur Rimbaud

Elle est retrouvée.
Quoi ? — L’Éternité.
C’est la mer allée
Avec le soleil.

Estes quatro versos pertencem a um poema, L’eternité, de Jean-Arthur Rimbaud. Escreveu-o em Maio de 1872. Dois anos depois, retocou-o, mudando para mêlée o que antes dissera allée.

A transcendência que exala destes versos diminuirá se soubermos que a razão prosaica que os inspirou foi a paixão carnal do jovem Rimbaud pelo mais maduro Verlaine, outro poeta, a quem queria convencer que saísse de casa, abandonando a jovem mulher, para vir viver com ele?

Um mês depois, a verdade é que Verlaine deixou Mathilde. Mêlée onde antes estava allée.

Rimbaud morreu cedo. Viveu a mais paradoxal das vidas. Foi o breve e indelével relâmpago que sabemos na poesia francesa. Explorou-se a si mesmo ao limite, num je est un autre físico que quase ofusca o seu motto poético: fugas sucessivas de casa, viagens intranquilas e extenuantes por toda a Europa, a experiência da miséria, a fadiga do vagabundo.

Amante de Verlaine (que depois o baleou e se converteu ao catolicismo), Rimbaud, por delicadeza ou incandescente desejo de aventura, deixou tudo – deixou Verlaine, deixou a poesia, deixou a França – e partiu aos 22 anos para a Etiópia onde (na apócrifa biografia de que eu gosto) traficou escravas, guardando algumas delas como amantes. As biografias mais rigorosas confirmam as amantes, mas dizem que era de armas e café o tráfico a que se dedicava, na expectativa de enriquecer de vez (com a mesma poética ganância de qualquer Madoff).

Morreu jovem, aos 37 anos, por muito o amarem os deuses ou por, quem sabe, já não terem paciência para o aturarem. “Par delicatesse j’ai perdu ma vie”, foi frase que deixou para que lha escrevessem no epitáfio.

FantinLatour
Sentado, Verlaine é o 1º à esq, Rimbaud ao seu lado, também sentado. Quadro de Fantin-Latour.

 

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